quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Celso Rocha de Barros Marina, Simone, Izolda e Nísia, FSP

 Marina Silva, Simone Tebet, Izolda Cela e Nísia Trindade são quatro nomes de peso que aumentariam a representatividade feminina no ministério Lula, trariam bagagem de competência e sinalizariam que a Frente Ampla que o elegeu estará presente no novo governo.

Marina Silva é uma gigante da história política brasileira. Como ministra de Lula, comandou a maior redução de desmatamento da Amazônia da história. Sua indicação para o Ministério do Meio Ambiente teria efeito diplomático imediato, pois seu prestígio internacional é imenso. Sua reconciliação com o PT na campanha de 2022 foi festejada pelos melhores quadros da esquerda. Trabalhou ativamente por Lula na campanha, apesar dos ataques bisonhos que sofreu do PT em 2014.

Lula ao lado de Simone Tebet e Marina Silva
Lula ao lado de Simone Tebet e Marina Silva durante caminhada com o povo em Teófilo Otoni, em Minas Gerais - Ricardo Stuckert - 21.out.2022

Izolda Cela, atual governadora do Ceará, é a principal responsável pelas mudanças da educação cearense que deram aos estudantes do estado notas excelentes nos exames nacionais. Dilma Rousseff tentou generalizar essa experiência para o Brasil todo quando nomeou Cid Gomes ministro da Educação em 2016, mas Eduardo Cunha abortou o experimento. É muito difícil pensar em um bom argumento contra a indicação de Cela.

Simone Tebet foi a grande surpresa da campanha de 2022. Engajou-se na campanha do segundo turno com muito mais entusiasmo, por exemplo, do que o candidato do PDT, historicamente muito mais próximo dos petistas. Arriscou capital político, pois vem de um estado fortemente bolsonarista. Se Tebet não receber um ministério de respeito, a sinalização para potenciais aliados do PT no futuro será muito ruim. Além do mais, Tebet pode atrair quadros técnicos que antes orbitavam no PSDB e a direita fez muito mal em desprezar na era Bolsonaro.

Nísia Trindade é a presidente da Fundação Oswaldo Cruz, um dos berços ideológicos do SUS e instituição importante no combate à pandemia de Covid-19. Sua indicação —que é disputada com o PP de Arthur Lira— daria uma mensagem de clara ruptura com a política de assassinato em massa e negação da ciência promovida por Jair Bolsonaro.

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Petistas importantes ambicionam ganhar esses ministérios no lugar de algumas das mulheres citadas acima. É uma disputa política, não é o fim do mundo, mas aviso os petistas que eles estão correndo dois riscos.

O primeiro é o de dificultar uma federação com a centro-esquerda cuja liderança parece ser o futuro mais provável para o PT após a minirreforma política de 2017. Se o PT não der espaço aos aliados de centro no governo, eles se federarão sob outra liderança.

O segundo é que há alto risco de que tudo que o PT ganhar sacrificando a representatividade feminina e a identidade da Frente Ampla seja depois perdido para o Centrão anabolizado que Bolsonaro deixou de herança para Lula.

Na última semana, afinal, a turma do Lira lhes deu um baile. Conseguiu apoio do partido para um projeto que altera o orçamento secreto, mas ainda preserva muitas de suas características ruins. E conseguiu jogar nas costas de Aloizio Mercadante a mudança da Lei das Estatais que permite a nomeação de políticos. Concordo com o senador Tasso Jereissati: Mercadante não precisava disso e quem precisa não é gente boa.

Vale a pena ao menos começar o governo com a Frente Ampla. Quanto mais o PT puder evitar ficar sozinho com a turma do Lira, eu acho melhor.

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