Depois de tempos conturbados pela pandemia provocada pela Covid-19 – atingindo praticamente toda a humanidade – o momento presente é mais uma pausa para reflexão de final de ano a respeito da fragilidade humana, desprovida ainda de condições para profetizar maus presságios que se avizinham e colocam em risco a vida de cada pessoa. Sunt lacrima rerum, assim se expressou Virgílio, em sua Eneida, com o significado de que nos grandes infortúnios até dos seres inanimados brotam lágrimas de compaixão. E uma das conclusões a se tirar do mal que afligiu toda a população é que, como preconizavam os gregos, somos mais vulneráveis quando nos sentimos fortes. Quando fracos não dimensionamos corretamente o perigo.
Imprescindível para o momento é blindar o corpo contra a contaminação das mais variadas cepas. Percebe-se que a humanidade chegou ao fim de uma era e pisa no alvorecer de outra, ainda desconhecida.
A reflexão projetada é justamente, por conhecer um passado nada auspicioso, dar vazão a uma nova cruzada de fazer inveja à criatividade de Aldous Huxley, no Admirável Mundo Novo e resgatar valores à moda antiga, como generosidade, honestidade, persuasividade, racionalidade e outros predicados recomendados para a boa convivência entre os humanos. É hora de sorver a doce sobrevida e cantar com os olhos grandes e sonhadores mirando o infinito, como se o mundo tivesse acabado de ser criado.
A palavra generosidade vem revestida de um significado tão difuso que
arrasta em sua conceituação outros predicados portentosos, como bondade, beneficência, benevolência, dadivosidade, desapego. É a prova de que o perfeito não pode ser inimigo do bom. Honestidade corresponde à probidade, à retidão de pensamentos e princípios e a etimologia da palavra vem atrelada à honra e à dignidade. É como se fosse uma lógica mecanizada e pronta para ser utilizada. Persuasividade é a arte do convencimento, de exercer influência para que as pessoas possam praticar aquilo que é certo para o coletivo. É o momento de debater, discutir, aceitando ou rejeitando argumentos. É aproximar-se do coração para encontrar a verdade. A racionalidade é a medida para ponderar e aceitar as coisas como elas são, com o intuito de ajustá-las ao bem comum. É como se fosse um oráculo misterioso que sussurra o caminho perfeito para a vida.
Assim, que seu Natal e o ano que se aproxima sejam realmente novos e que os invasores patogênicos hostis e insidiosos com suas cepas modificadas não encontrem ambiente favorável em você e que seu sistema imunológico possa sufocar o vírus, extirpando-o definitivamente. Que você seja introduzido numa redoma de cristal à prova de contaminações.
Não seja demasiado justo com as pessoas, como recomenda o Eclesiastes (Noli esse justum multum). Justiça em demasia é injustiça. Procure encontrar uma solução que seja mais benigna, mais tolerante, mais humana, enfim que seja compatível com o progresso, os costumes e a solidariedade que deve existir entre as pessoas.
Que você possa acionar corretamente a senha da esperança, de vital providência. O homem, até a pouco tempo, estava encruado dentro do seu labirinto, com o mínimo contato com seus pares. Necessita de um prazo razoável para irmanar-se como siameses, libertar-se das amarras antigas e
retomar o sentido do coletivo. Tudo para que seja definido um novo curso, um caminhar constante em grupo, sem estandardizar critérios e regras.
Que você possa encontrar uma nova vertente em sua vida, deixando sempre o pensamento a fermentar para se transformar em uma referência na prática de boas ações de médio e longo prazos, forjando, desta forma, um paraíso igualitário, uma verdadeira epifania em que possa espalhar a harmonia e a poesia.
Eudes Quintino de Oliveira Júnior, Promotor de justiça aposentado, membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura.
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