Agência FAPESP – Isaias Raw morreu na noite de terça-feira (13/12), aos 95 anos. Formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em 1950, professor titular do departamento de Bioquímica e professor emérito da USP, Raw foi um dos responsáveis por transformar o Instituto Butantan no maior centro produtor de vacinas do país.
“O professor Isaias Raw foi uma presença constante e destacada do panorama científico brasileiro nos últimos 60 anos. Fez parte de um grupo pioneiro que implantou a bioquímica em São Paulo, e influenciou pelo menos duas gerações de pesquisadores. Tive pessoalmente oportunidade de interagir com ele, em várias oportunidades, e sempre admirei sua capacidade de integrar conhecimentos científicos fundamentais com aplicações biotecnológicas práticas e grande respeito pela educação científica”, afirmou Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP.
Doutor em bioquímica na USP, em 1954, e professor livre-docente em 1957, Raw foi preso em 1964 e cassado pelo AI-5 em 1969, Trabalhou como professor visitante da Universidade Hebraica de Jerusalém, em Israel, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), na Universidade Harvard e no Centro Biomédico de Educação da City College (Nova York).
Até deixar o Brasil, já tinha sido um dos fundadores da Editora da Universidade de São Paulo e da Universidade de Brasília, atuado para unificar os exames vestibulares de São Paulo e dirigido a Fundação Brasileira para o Desenvolvimento do Ensino da Ciência (Funbec), além de ter participado da criação da Fundação Carlos Chagas e do Curso Experimental de Medicina da FMUSP.
Também foi responsável pela concepção e produção dos kits "O Cientista", com tarefas para estudantes fazerem em casa. “Fazíamos na Faculdade de Medicina. Quando Ulhoa Cintra foi reitor da USP, de 1960 a 1963, ganhamos um galpão na Cidade Universitária e tudo passou a ser industrializado. Chegamos a ter 650 operários. Quando saí do projeto, a Editora Abril topou fazer isso comercialmente”, ele contou em entrevista à revista Pesquisa FAPESP.
De volta ao país, ingressou no Instituto Butantan em 1984, tendo sido responsável pela criação do Centro de Biotecnologia, do Museu de Microbiologia e do Museu Histórico. Foi também o idealizador da Fundação Butantan, da qual foi presidente entre 2005 e 2009.
Raw foi diretamente responsável pela montagem de novas fábricas de produção de soro na década de 1980 e liderou o desenvolvimento de novas vacinas, como a da hepatite B recombinante. Na diretoria do Instituto, entre 1991 e 1997, teve papel fundamental na transferência de tecnologia da vacina da gripe entre Sanofi Pasteur e Butantan, até hoje um dos carros-chefe do Butantan.
Raw era membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) desde 1987. Recebeu a Ordem Nacional do Mérito Científico em 1994, o título de Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico em 1995 e foi considerado grão-cruz da mesma ordem em 2001, a mais alta condecoração científica no país.
Nos últimos anos, esteve afastado da docência, mas continuava atuando nas pesquisas de vacinas no Butantan, incluindo a da dengue.
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