quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Elio Gaspari - Que tal cortar gastos?, FSP (definitivo)

 PEC pra cá, PEC pra lá, orçamento secreto, emendas do relator, teto de gastos. Desde o início de novembro o debate nacional está tomado por uma algaravia que se resume a três palavras: Como gastar mais.

Cada despesa com o dinheiro da Viúva tem defensores capazes de justificar suas propostas. Quase sempre, falam em nome dos fracos e dos oprimidos. Não apareceu uma única voz propondo cortar gastos, como se o problema do Orçamento estivesse no andar de baixo.

Plenário em foto aberta, com poucos parlamentares presentes e muitas cadeiras vazias. Nas laterais, placares de votação
Plenário da Câmara dos Deputados durante sessão conjunta do Congresso Nacional - Roque de Sá - 11.jul.2022/Agência Senado

Começando pelo topo, imagine-se uma reunião dos seis ex-presidentes, incluindo-se Jair Bolsonaro. Todos podem defender gastos, pelas mais altas razões. Falta dizer que eles custam à Viúva pelo menos R$ 5,76 milhões por mês. Tudo de acordo com a lei.

Nessa estatística do portal de dados abertos da Presidência, incluem-se o custeio de equipes, diárias de hotel, passagens e combustível. Ela não tabula aposentadorias e benefícios legalmente acumulados. Nela, o teto fica com Lula (R$ 129,7 mil) e o piso com José Sarney (R$ 76,6 mil).

No andar de cima do serviço público há de tudo. No primeiro semestre deste ano, pelo menos 353 juízes ganharam mais de R$ 100 mil num mês. Três receberam de R$ 432 a R$ 700 mil. Uma magistrada recebeu R$ 733 mil em abril. Teve general acumulando os vencimentos de militar (R$ 32 mil) com os de cargo civil (R$ 31 mil). No Superior Tribunal Militar, 22 viagens do seu presidente custaram R$ 235 mil.

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Tem ministro do Tribunal de Contas que custa mais com suas viagens (R$ 43.517 entre 25 de fevereiro e 14 de março) do que com os vencimentos (R$ 37,3 mil brutos). Três generais palacianos receberam num ano até R$ 350 mil acima do teto do serviço público. Em 12 meses, um deles recebeu R$ 874 mil brutos.

Furam-se tetos, tanto o do limite geral de gastos à custa da bolsa da Viúva, como de embolsos individuais. Tudo dentro da lei.

O que surpreende na má qualidade do debate é que existem dezenas de propostas para se gastar mais, sem que tenha aparecido uma só ideia para se gastar menos. É uma lógica que vai bem nos Emirados Árabes, mas não faz sentido em Pindorama.

Aqui, gasta-se mais em nome dos pobres sem se mexer nas excentricidades praticadas no andar de cima. Todo mundo é contra a desigualdade, desde que não se toque no seu pirão. Nenhuma das emendas do relator economizava um só centavo, só gastavam.

Pode-se argumentar que com a magnitude do Orçamento, um corte aqui e outro ali não fazem diferença. Tudo bem, mas servem de exemplo, demonstram intenção. Até porque as arcas da Viúva não podem ser as únicas onde é impossível cortar alguma coisa. Afinal, custos são como as unhas, se não cortar, crescem.

Eleito por um arco de defensores da democracia, Lula apresenta-se como encarnação de uma frente de partidos. No arco democrático, estava o economista Pedro Malan. Na frente de partidos, está o de sempre.

Faz tempo, botaram um aumento no contracheque do brigadeiro Eduardo Gomes, patrono da Força Aérea, duas vezes derrotado na disputa pela Presidência da República. Sem ter outra fonte de renda além do soldo, morava bem na praia do Flamengo. Vivia só.

Quando lhe deram um dinheiro que era legal, mas a seu ver impróprio, sem dizer uma palavra, fazia cheques mensais para os pobres de Petrópolis e para missões religiosas.

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