quarta-feira, 26 de novembro de 2025

Ruy Castro - Bolsonaro marcou palpites triplos e errou todos, FSP

 Lembra-se da frase de Bolsonaro na Presidência? "Só saio daqui preso, morto ou vitorioso." E completou, com ponto de exclamação: "Quero dizer aos canalhas que eu nunca serei preso!". Pois, desapontando os canalhas a quem prometeu sua eternidade no Planalto, Bolsonaro está preso, vivo e derrotado. Marcou palpite triplo e conseguiu errar os três. Para quem se julgava senhor de um latifúndio de 8.509.379 quilômetros quadrados, terá de se contentar agora com um três por quatro —12 metros quadrados— e ainda lamber os beiços.

Vista do nosso atual e delicioso ponto de vista, aquela era uma afirmação intrigante. O que o levava a ter tanta certeza da impunidade, da imortalidade e da invencibilidade? Hoje sabemos. A impunidade se devia a Augusto Aras, seu salivante procurador-geral. A imortalidade, à exuberância que exibia em palanques, jet-skis e motocicletas. E a invencibilidade, aos votos de papel, às injeções ilegais de dinheiro no eleitorado, aos serviços exclusivos da Polícia Rodoviária e, se preciso, à intervenção do Exército, que ele julgava ter na manga.

As sucessivas derrotas nas urnas, nos tribunais e nas pesquisas de opinião não têm feito bem a Bolsonaro. Ativaram-lhe uma crise de soluços e vômitos que, até então, nunca se manifestara e, na semana passada, provocaram-lhe um confesso surto de alucinação. Por sorte, um surto benigno —é o único alucinado que consegue realizar uma operação tão delicada como manobrar um ferro em brasa contra um pequeno objeto acoplado ao seu tornozelo e cortar a fogo esse objeto sem se ferir horrivelmente.

Bolsonaro julgava-se onipresente (num único dia, podia ser visto em dez cenários diferentes, exceto na mesa de trabalho), onisciente (para isso montara seu serviço particular de informações) e onipotente (seu ego vivia permanentemente ereto). Mas esqueceu-se de combinar com a vida real.

Um dia, fará jus a uma estátua equestre —só que, como dizia Nelson Rodrigues, equestre ao contrário, com ele montado por um relinchante cavalo.

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