sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Ascensão do Pix: veja como o novo meio de pagamento ‘atropelou’ cheques, boletos, docs e cartões, OESP

 O Pix, meio de pagamento que completa cinco anos de existência neste domingo, 16, já responde por mais da metade das transações bancárias do Brasil. A sua chegada provocou uma mudança drástica no setor financeiro, com a quase extinção de métodos analógicos (como o cheque), além de reduzir o crescimento de outros meios com menos inovações.

Para especialistas, o Pix catalisou processos como a bancarização dos brasileiros e a digitalização bancária do País. Tendo começado com um protagonismo das transações entre pessoas físicas, o pagamento instantâneo tem experimentado um grande aumento de transações para as compras no varejo.

Para entender como o Pix mudou a economia nacional, transformando-se em parte importante do dia a dia dos brasileiros, o Estadão está publicando uma série de reportagens sobre a revolução provocada por esse novo meio de pagamento.


TRANSFERÊNCIA FACILITADA

O surgimento do Pix beneficiou o sistema financeiro nacional como um todo, dizem analistas. Sua abrangência provocou uma explosão na quantidade de transações totais (incluindo todos os meios de pagamento) monitoradas pelo Banco Central.

Enquanto menos de 11 bilhões de transações foram registradas no primeiro trimestre de 2020, no mesmo período em 2025 houve 35,6 bilhões, um crescimento de mais de 226%. No segundo trimestre deste ano foram registradas 37,4 bilhões, sendo que 51,23% destas transações foram por Pix (19,4 bilhões).

Quantidade de pagamentos realizados no Brasil

Pix representou mais de 50% dos pagamentos realizados no País entre abril e junho de 2025

(EM BILHÕES DE PAGAMENTOS)

Um dos casos mais emblemáticos das transformações no sistema bancário nacional foi a extinção do DOC e da TEC. Como publicado pelo Estadão, DOC e TEC, criados pelo Banco Central em 1985, foram encerrados em janeiro de 2024, numa relação direta com o surgimento do Pix.

Os cartões de débito, o meio de pagamento mais usado no início da década, também sofreram os impactos do Pix. Enquanto outros meios digitais cresceram em curvas exponenciais, as transações com cartão deste tipo registraram uma estabilidade em cerca de 4 bilhões por semestre entre 2020 e 2025.

Contudo, o meio ainda corresponde a cerca de 10,65% do total de movimentações da economia nacional.



Para o diretor-executivo de inovação, produtos e serviços bancários da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Ivo Mósca, o Pix acelerou a digitalização das instituições bancárias do País e gerou ganhos de eficiência para os bancos.

Ele explica que meios digitais permitem um custo de operação muito menor para os bancos do que os analógicos, especialmente em relação à logística e segurança de valores em espécie.

Ou seja, do lados dos bancos, a digitalização permite ganho em relação ao corte de despesas.

Mesmo que a maioria das transações realizadas no Brasil ocorram por meio do Pix, a TED segue figurando como o meio pelo qual circulam os maiores valores — mas com a diferença diminuindo.

Segundo Mósca, essa proeminência da TED se justifica pela manutenção do hábito de quem já fazia transações deste tipo antes do Pix. Mas ele lembra que a chegada do Pix ainda em 2020 causou uma redução drástica ou mesmo completa das taxas de transações antes cobradas pelos bancos sobre a TED.

“O Pix não mexeu com o balanço de ninguém no lado da receita, mas no lado dos custos, o resultado foi incrível”

Ivo Mósca

Diretor-executivo da Febraban

Para Mósca, isso fez com que as pessoas já bancarizadas e acostumadas a fazer grandes transações seguissem usando a ferramenta mais tradicional.

Valores das transações por meio de pagamento

Embora exista mais movimentação em meios tradicionais, há uma tendência de crescimento com o Pix.

(EM TRILHÕES DE REAIS | R$)

Assim como a quantidade de transações, os valores também presenciaram um grande crescimento geral. Enquanto no primeiro trimestre de 2020 foram transacionados pouco menos de R$ 11 trilhões, no mesmo período de 2025 houve um crescimento de 111% , alcançando R$ 23 trilhões. No segundo trimestre de 2025, este valor alcançou R$ 25,7 trilhões.

Desse montante, R$ 8,36 trilhões foram transacionados por meio de Pix, ou seja, aproximadamente 32,53% do total. A TED segue como o maior meio de transferência de valores, representando aproximadamente 44,30% do total (R$ 11,4 trilhões).

Quando se analisa a distribuição etária dos usuários dos meios de pagamento, fica evidente a predominância do público jovem adulto no Pix, com as faixas de 20 a 39 anos sendo mais da metade dos usuários.

Faixas etárias dos usuários do Pix

Plataforma é mais popular entre os jovens adultos

A faixa de “Mais de 60 anos” corresponde a menor porcentagem, inferior a quantidade de usuários menores de 19 anos. A relação intrínseca entre o Pix e meios digitais parece ser a maior barreira que o meio de pagamento encontra neste momento.

Em 2024, o Banco Central realizou uma pesquisa de opinião que reafirmou a preferência dos brasileiros pelo Pix, mas também mostrou que meios de pagamento como os cartões de crédito e débito passaram a ser mais usados do que em anos anteriores.

Pesquisa BC: Quais meios de pagamento você usa?

Maneira como os brasileiros realizam pagamentos alterou significativamente desde 2021

Em geral, a pesquisa evidencia os processos recentes já destacados de bancarização e digitalização bancária, uma vez que meios de pagamento físicos ou analógicos foram os que registraram as maiores quedas, enquanto os outros meios digitais registraram elevações, mesmo que tímidas.

Segundo Mósca, o Pix automático, lançado em outubro de 2025, pode tirar espaço de meios usados para o pagamento de contas recorrentes, como boletos e cartões de crédito. Este último têm acelerado a oferta de benefícios aos usuários, como acúmulo de pontos e acesso a salas VIP em aeroportos, como forma de não perder espaço.

A Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) afirmou, por meio de nota, que a convivência entre os cartões de crédito e o Pix “tem se mostrado positiva para o consumidor e para a sociedade”.

A entidade reforça que entende os cartões como o “principal vetor de inclusão financeira, acesso ao crédito e formalização da economia”. E também classifica este instrumento de pagamento como o mais seguro.


MUDANÇA NO COMÉRCIO

Embora inicialmente o Pix fosse usado mais para movimentar pequenos valores entre amigos ou familiares, o perfil das transações parece estar mudando. Setembro de 2025 foi o primeiro mês em que mais transações entre pessoas e empresas (P2B) foram realizadas do que entre pessoas físicas (P2P), segundo dados oficiais do Banco Central.

Desde o lançamento do Pix, as transações P2P foram sempre a maior quantidade. Enquanto elas chegaram à marca de 1 bilhão de transações por mês em 2022, esse número só foi atingido em julho de 2023 pelas transferências envolvendo CNPJs.

Mas, desde então, o crescimento deste tipo foi o mais acelerado. Transações entre negócios e pessoas também têm anotado crescimento, mas menor que os outros.

O PIX no comércio

Meio de pagamento tem uma tendência de crescimento em compras.

(EM BILHÕES DE TRANSAÇÕES)

Mósca, da Febraban, atribui este crescimento ao ‘Pix Cobrança’, ou seja, a variação do meio de pagamentos que permite que empresas recebam dinheiro rapidamente em compras à vista. Em geral, são apresentados como QR codes ou códigos copiáveis para o comprador, muito usados em compras online.

Mesmo que a TED siga sendo o principal meio de transações entre CNPJs, o Pix vem recebendo valores cada vez maiores. As transações entre pessoas físicas responderam pelos maiores valores desde o lançamento do Pix até o primeiro trimestre de 2022, quando passou a disputar espaço com as transações entre negócios (B2B).

Mas é no início de 2023 que a situação se altera e as transferências entre CNPJs passam a ser o maior volume. Em outubro de 2025, mais de R$ 1,2 trilhão foi transferido entre empresas.

Valores das transações por meio de pagamento

Embora exista mais movimentação em meios tradicionais, há uma tendência de crescimento com o Pix.

(EM TRILHÕES DE REAIS | R$)

Diferentemente das transferências de pessoas físicas, os Pix de CNPJs pagam algumas taxas. Contudo, a facilidade do meio de pagamento parece fazer com que cada vez mais negócios optem por ele para compras de grande valor agregado, como, por exemplo, o pagamento de fornecedores.separador:

Como a reportagem foi feita

Para os gráficos da quantidade e do valor das transações, foram usados os dados sobre todos os meios de pagamento reunidos e disponibilizados pelo Banco Central do Brasil na aba de “Estatísticas dos meios de pagamento”. Estes dados são agregados por meio de pagamento, quantidade, valor e trimestre.

O gráfico de quantidades corresponde à quantidade total de transferências realizadas em cada meio, agregado por cada trimestre de cada ano. Já o gráfico com os valores corresponde à soma total das transferências feitas por cada meio, granularizadas nas mesmas condições do anterior.

Já a pesquisa “O brasileiro e sua relação com o dinheiro”, do Banco Central, pode ser encontrada no site do BC. A edição de 2024 é a mais recente divulgada pela entidade.

Por fim, para os gráficos da quantidade e dos valores transferidos em cada forma de Pix foram usados os dados sobre todas as naturezas de Pix (B2B, B2G, B2P, G2B, G2G, G2P, ‘Não disponível/Não se aplica’, P2B, P2G, P2P). Estas informações são reunidas e disponibilizadas pelo Banco Central do Brasil na aba de “Estatísticas de transações Pix”, em seu portal de dados abertos. Estes dados são agregados por natureza da transação, quantidade, valor e mês.


Reportagem: Lucas Keske; Dados: Lucas Keske e Cindy Damasceno; Infografia e Design: Cindy Damasceno, Lucas Keske e William Brizola; Desenvolvimento: William Brizola; Designer multimídia: Cindy Damasceno e William Brizola; Editor Executivo de Economia, Negócios e Link: Ricardo Grinbaum; Editor de Economia: Alexandre Calais; Editora-adjunta de Economia: Renée Pereira; Editora de infografia multimídia: Regina Elisabeth Silva; Editores-assistentes de infografia multimídia: Adriano Araujo e William Mariotto;

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