quarta-feira, 26 de novembro de 2025

Jorge Abrahão A boa e a má notícia: o racismo é reconhecido, mas o preconceito segue alto, FSP

 Oito em cada dez pessoas reconhecem que existe diferença no tratamento entre brancos e negros no acesso e no atendimento de diversos serviços. E este preconceito ocorre mais em shoppings e estabelecimentos comerciais, como lojas, restaurantes, supermercados e farmácias, seguidos do ambiente de trabalho, em processos de seleção, no dia a dia e na promoção pessoal.

A imagem mostra um grupo de pessoas participando de um protesto. Em primeiro plano, uma pessoa segura um cartaz azul com a frase 'O SEU SILÊNCIO É RACISMO' escrita em letras grandes e destacadas. Ao fundo, há outros cartazes com mensagens contra o racismo. O ambiente parece ser urbano, com árvores e pessoas visíveis ao redor.
Manifestantes fazem ato em resposta a episódio de racismo sofrido por crianças no Shopping Pátio Higienópolis; episódio ocorreu em abril deste ano - Danilo Verpa - 23.abr.25/Folhapress

É interessante observar que justamente em Salvador, a cidade com a maior população negra do país, é o local onde as pessoas mais percebem o preconceito em shoppings (65%).

É o que mostra a pesquisa sobre relações raciais do Instituto Cidades Sustentáveis, realizada pela Ipsos-Ipec nas dez maiores capitais do Brasil.

O perfil da amostra já deixa evidente a desigualdade estrutural da sociedade. No que diz respeito à educação formal, a maioria das pessoas brancas tem ensino superior (58%), enquanto a maioria das pessoas negras tem ensino médio (58%). Este fato determina a perpetuação de desigualdades de oportunidades no mercado de trabalho, de renda e de perspectivas futuras.

Em relação à renda familiar a situação se repete, visto que os brancos têm maior presença na classe A/B e nas faixas de renda mais alta, enquanto os negros são maioria na classe D/E e nas faixas de renda mais baixas, herança da escravidão.

Considerando a percepção geral sobre o racismo, mais da metade das pessoas diz que a presença de negros e indígenas nas universidades é positiva para a sociedade. Quatro em cada dez pensam que a violência policial afeta mais os negros do que os brancos. E que é fundamental aumentar a representação política e de cargos de poder dos negros.

Há quase um consenso sobre as medidas para enfrentar o problema, que passam pela necessidade de punir os atos de racismo (42%) e debater o tema nas escolas (36%). Alguma divergência surge em relação às politicas afirmativas, especialmente sobre a eliminação de cotas nas universidades (negros, com 12%, e brancos, 18%) e a criação para cargos de decisão (negros, 13%, e brancos, 8%).

No que diz respeito ao racismo ambiental, é de se ressaltar que a mudança climática afeta mais a população negra que ocupa os territórios mais vulneráveis da cidade e, por isso, mais sujeita aos impactos do clima como enchentes, deslizamentos, secas e ilhas de calor.

A pesquisa aponta também que as pessoas brancas têm papel-chave no enfrentamento do racismo no país. Cabe a elas se informar melhor e se educar sobre o tema e suas consequências. Além disso, um terço da amostra entende que um caminho é os brancos se reconhecerem como parte do problema e mudarem suas atitudes, como a utilização de gírias e piadas preconceituosas.

Resta ainda avançarmos em um tema ético, de valores, que está relacionado a um enfrentamento estruturante e de longo prazo da questão racial. Tem a ver com a formação das novas gerações, o papel de mães e pais conscientes e de uma educação formal que incorpore no currículo a discussão sobre a questão racial. E, se assim for, poderemos formar cidadãs e cidadãos livres de preconceito. O que nos conduzirá, efetivamente, a uma sociedade mais harmoniosa. Não me consta que há lei que proíba sonhar junto.


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