Só se decepcionou com o resultado da conferência do clima quem ainda esperava alguma coisa de negociações que se arrastam há um terço de século. Uma tragédia de erros em que os vilões se travestem de bons moços e em que diplomatas, ambientalistas e repórteres fingem acreditar —o show precisa continuar.
A exceção é Donald Trump, que não deu as caras em Belém nem enviou representante. Não poderia mesmo dar certo um processo em que o principal poluidor histórico dá uma banana para nós, chorões que se importam com as vítimas da crise climática no presente e no futuro.
Ninguém vai a uma COP a passeio. A trigésima será lembrada como a peça encenada na amazônia sem roteiro para acabar com desmatamento de florestas tropicais, sem mapa de caminho para se livrar de combustíveis fósseis, sem incluir na conversa o contingente inaudito de indígenas em seu próprio território.
Encontra-se nas redes vídeo eloquente do presidente da COP em que ele mostra coragem ao tocar no assunto do incêndio que paralisou a reunião. André Corrêa do Lago falou da reação instintiva de pessoas de todos os países que se lançaram a extinguir o fogo, enxergando ele, aí, um símbolo da COP30 e de sua disposição para promover o bem comum.
Palavras tocantes. Em retrospecto, porém, à luz dos documentos adotados na plenária final, soam descabidas: com o mundo em chamas, em vez de buscar extintores, correm todos para seus bunkers e dão as ordens para extrair da Terra até o último grama de petróleo, carvão e gás cuja queima turbina o efeito estufa.
Países árabes, com Arábia Saudita à frente, Rússia, Índia e China não querem nem ouvir falar da carta do caminho para afastar-se dos fósseis que Marina tirou da manga e Lula trucou. Ficaram falando sozinhos, enquanto calavam sobre a Foz do Amazonas que teve perfurações petrolíferas autorizadas na véspera da COP30.
Diante da omissão escandalosa em mais uma COP, poderá parecer cínico comemorar menções inéditas a questões de gênero, povos indígenas e comunidades afrodescendentes. São grupos hiper-representados nas populações vulneráveis aos eventos climáticos extremos, decerto, mas que não colherão menos vítimas porque um texto diplomático lhes fez reverência protocolar.
Nem mesmo a promessa de triplicar recursos para adaptação dessas populações se qualifica como providência à altura do desafio de reduzir o sofrimento futuro.
Todos os compromissos financeiros de COPs passadas foram descumpridos pelos países desenvolvidos.
Sem corar, impolutos europeus erguem barreiras alfandegárias a produtos intensivos em carbono de ex-colônias subdesenvolvidas. Não admira que países africanos tenham recusado condicionar recursos financeiros ao monitoramento de 60 indicadores de adaptação festejados como conquista de Belém.
Belém era para ser a COP da verdade e da adaptação. Para falar a verdade, o tema da adaptação veio para ficar, sim, e vai dominar a agenda de ora em diante. Mas só porque os suspeitos de sempre conseguiram tirar da mesa a mitigação do aquecimento global reduzindo emissões de carbono —algo que a ciência já apontava consensualmente em 1992, quando a pantomima começou.

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