segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Prisão de Bolsonaro dificulta avanço de Messias rumo ao STF, Juliano Spyer, FSP

 Na sexta-feira, o ministro André Mendonça anunciou que abraçaria a campanha do também evangélico Jorge Messias ao STF. No sábado, a convocação de uma vigília de orações levou à prisão preventiva de Jair Bolsonaro. Esses eventos estão em rota de colisão?

Dois homens de terno se abraçam no centro de uma mesa de conferência. Ao fundo, há um logotipo circular da CONAMAD com mapa do Brasil. À esquerda, um homem sorri e observa a cena. À direita, um homem mais velho está sentado, olhando para frente. Uma mulher com câmera fotografa a cena de costas.
Jorge Messias e André Mendonça se cumprimentam em evento da Convenção Nacional das Assembleias de Deus Ministério de Madureira (Conamad) - Reprodução/Instagram


Desde que Messias surgiu como provável substituto de Barroso, lideranças evangélicas debatem a quem ele seria leal como ministro do Supremo. A Lula ou à Bíblia? Quando julgar temas sensíveis à pauta conservadora —por exemplo, sexualidade na infância—, de que lado ficará?

Gestos como o de Mendonça respondem à pergunta. Messias seguirá a orientação de Jesus: "Dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus". Em outras palavras: acompanhar Lula na política e seguir a Bíblia nos costumes.

Isso é uma má notícia para o ramo cristão do bolsonarismo, presente como células políticas dentro da maioria das igrejas evangélicas do país.

Dois homens de terno apertam as mãos em frente a estantes cheias de livros em uma biblioteca. Ambos sorriem e estão em ambiente interno com móveis de madeira.
Lula e Jorge Messias no Palácio do Planalto - Ricardo Stuckert - 20.nov.25/Divulgação /PR

O bispo Samuel Ferreira, líder do Ministério Madureira da Assembleia de Deus, foi atacado após visitar Lula no Planalto no mês passado. Ele precisou ir a público explicar o motivo do encontro: defender a indicação de Messias.

Mendonça e Ferreira pertencem a denominações muito distintas —uma ligada à elite evangélica, outra aos segmentos populares. Ainda assim, ambos afirmam que Messias é antes evangélico e que atuará como tal nas pautas de costumes.

Mesmo alguém próximo ao bolsonarismo, como a senadora Damares Alves, disse —ainda que sem declarar apoio— que Messias é "um bom menino". Já o principal nome da direita gospel, o pastor Silas Malafaia, que raramente perde chances de se pronunciar, preferiu não comentar quando questionado pelo canal Pleno News.

A própria atitude de Mendonça tornou explícita sua hierarquia de lealdade. Ao se oferecer para articular a aprovação de Messias no Senado, ele sinaliza: sua prioridade é a fé. Mendonça é primeiro evangélico e depois bolsonarista.

Entre cristãos antipetistas, prevalece a avaliação de que Messias é a opção "menos pior" entre os nomes que Lula poderia propor. Mas, com a escolha, Lula iguala o feito de Bolsonaro ao indicar um evangélico ao Supremo. E a oposição perde o argumento de que o presidente privilegia religiões de matriz afro.

Os grupos nos extremos do debate político saem enfraquecidos caso Messias seja confirmado. Progressistas terão no tribunal um conservador de 45 anos, com décadas de atuação pela frente. Já a extrema direita perderá o argumento de que é impossível ser evangélico e ser de esquerda.

Outro vencedor, se a indicação for confirmada, será o próprio STF, criticado por parecer partidário. "Espero que Messias ajude a fazer a diferença em um STF vingativo, polarizado e político", disse um pastor em off.

Até a prisão de Bolsonaro, a indicação de Messias servia como um referendo ao nome proposto por Lula.

Agora, a oposição pode ajustar o discurso e alegar que a escolha fortalecerá a posição de Alexandre de Moraes na corte. E André Mendonça passará a enfrentar pressão redobrada.

Nenhum comentário: