O termo "merdificação" circula há algum tempo no hemisfério norte como "enshittification", em inglês. Foi cunhado pelo canadense Cory Doctorow, autor de um livro detalhando como a internet está uma caca só.
No último fim de semana, o rei da titica Elon Musk deu nova contribuição para o fedorento status quo, atualizando a plataforma X com a geolocalização dos perfis, o que permite aos usuários saber se uma conta está sediada num país diferente do que o citado. Bingo! Descobrimos que influenciadores da direita americana insistem em morar em Bangladesh ou na Nigéria.
Horas depois da atualização, o chefe de produtos da plataforma postou: "preciso de uma bebida." No shit, diriam americanos sóbrios. Pelo menos uma conta do tipo ultrapassava 1 milhão de seguidores e várias defecavam propaganda para centenas de milhares. Ao comprar o velho Twitter, Musk apenas acelerou o declínio agora evidente da rede social.
Quem passou o último sábado (22) monitorando as reações à prisão do capitão soldador podia testemunhar a distorção oferecida por atores operando longe de Brasília, com amplificação oferecida por sites brasileiros bolsoviques que estenografam qualquer flatulência emitida até por fugitivos da Justiça do Brasil.
Mas antes de Musk assumir o controle da plataforma, em 2022, um relatório de 2018 já apontava o Twitter como base para operações de interferência na política estrangeira.
Na época, a mais conhecida usina de desinformação e instigação à tensão social em outros países era a "Agência de Pesquisa de Internet", localizada em São Petersburgo. A operação era financiada e gerida por Ievguêni Prigojin, o finado oligarca russo que não levou a sério o destino reservado a quem teima em desafiar Vladimir Putin: despencar de alturas variadas.
Se as redes sociais tiveram origem no desejo de Mark Zuckerberg de dar nota para os atrativos físicos das estudantes de Harvard pelo aplicativo Facemash, precursor do Facebook, a adesão em massa às redes sociais, na sua infância, era motivada pelo impulso humano de manter ou fazer novas conexões pessoais. Atualmente, o nefasto Zuckerberg confirmou em abril passado que apenas 17% dos usuários acessam conteúdo postado por seus contatos no Facebook —o número cai para 11% no Instagram.
Não é novidade que as redes são cada vez mais antissociais na agressividade permitida pelos monopólios. A tensão política em vários países e a invasão de conteúdos de inteligência artificial agravaram o desconforto com o scroll infinito.
Hoje, as redes sociais não passam de mídia de massa, só que de má qualidade. Foi-se o tempo em que uma plataforma como o Twitter funcionava como agência de notícias em tempo real. A migração para o Bluesky foi um sintoma da insatisfação com a cloaca algorítmica de Musk.
Aplicativos apelidados de "mídia aconchegante" (cozy media) estimulam a formação de pequenos grupos de contatos e servem também como filtro para indicar conteúdos de interesse específico online, como games ou análise política.
A hostilidade que aumenta o engajamento também tornou usuários mais receosos de postar opiniões que possam atrair ameaças. O crescimento de aplicativos de conversa como Signal e WhatsApp deve ser um sinal do cansaço do público com a falta de privacidade e de controle que marca a experiência nas redes sociais.

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