Senadores do chamado centrão vão mesmo vetar o ingresso de Jorge Messias no STF? É difícil dizer. A estratégia básica do grupo é criar dificuldades para extrair facilidades. Se o governo Lula der a Davi Alcolumbre compensações que o parlamentar considere justas, é perfeitamente possível que ele se torne, da noite para o dia, o melhor amigo de Messias.
Ocorre que, de tempos em tempos, o centrão promove um reajuste geral da tabela de preços. Desfere um golpe mais duro contra a administração para indicar que o apoio passou a custar mais caro. É numa dessas que o indicado de Lula para o tribunal pode ter seu nome vetado.
Ao fim e ao cabo, o grupo sempre se dá bem. Até pelas diferenças ideológicas, governo e centrão se afastarão um pouco agora no ano eleitoral de 2026, mas, se Lula obtiver seu quarto mandato, é ao bloco que ele recorrerá para montar uma coalizão minimamente funcional em 2027. Mesmo quando aposta no candidato perdedor, o centrão tem garantido seu espaço na administração.
É por essas e outras que imprecar contra o grupo se tornou um esporte popular. Muitas das críticas são justíssimas. O centrão é de fato argentário, chantagista e doentiamente corporativista. Mas nem todas.
Não dá para dizer, por exemplo, que os parlamentares do grupo não representem a população. Eles o fazem e com muito mais granularidade do que a Presidência da República. Também não dá para acusá-los de ser sempre uma força para o mal. Na série longa, o centrão, por sua maleabilidade, tem funcionado como um eficaz contraponto ao radicalismo e às forças antissistema.
O bloco se aliou a Bolsonaro, mas bloqueou seus piores desatinos legislativos. Mesmo hoje, não lhe dá a tão sonhada anistia. Também não entrega a Lula tudo o que ele deseja para assegurar o quarto mandato.
É interessante constatar que a humanidade, embora tenha acumulado avanços incríveis nos campos da ciência, da tecnologia e da gestão, ainda faz política com base em conchavos e traições, exatamente como fazia na Idade da Pedra.

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