domingo, 23 de novembro de 2025

As penas e galinhas do Banco Master, Marcos de Vasconcellos, FSP

 O saudoso ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, estava espantado com a quantidade de relações e desdobramentos da operação Lava Jato, quando disse a interlocutores que, naquele processo, "onde se puxa uma pena, vem uma galinha".

Isso lá em 2015, quando os inquéritos da famigerada ação chegaram ao STF. Zavascki morreu dois anos depois, sem ver o fim do processo, com diversas decisões anuladas por motivos como a parcialidade do ex-juiz Sergio Moro, erros na coleta de provas e incompetência da vara que julgou os casos.

O novo escândalo do mercado financeiro, que levou à liquidação do Banco Master pelo Banco Central e à prisão de seu donoDaniel Vorcaro, parece mais um desses casos em que cada pena apresenta um novo galináceo ao poleiro.

Cinco pessoas vestindo roupas formais saem da entrada principal do Banco Master, localizada em um prédio com colunas brancas e fachada de vidro escuro. O letreiro do banco está visível acima da porta.
Um segurança segura uma grade enquanto pessoas deixam o Banco Master após a prisão do acionista controlador da instituição financeira, o empresário Daniel Vorcaro, em São Paulo, Brasil, em 18 de novembro de 2025 - Amanda Perobelli/REUTERS

A princípio, a discussão no mercado era sobre a circulação de ativos sem o lastro necessário e promessas de retornos impossíveis. Depois, veio uma estranha oferta de compra da instituição por parte de um banco público, o Banco Regional de Brasília, barrada pelo Banco Central.

Agora, são investigados a fabricação de crédito falso e aportes bilionários de fundos de previdências de estados e municípios, direcionados na base do lobby e sem garantias —e, possivelmente, sem pagamento também.

A canja tem ainda como ingrediente uma segunda oferta de compra (por valores maiores do que a barrada pelo BC) pelo grupo Fictor, holding com diversas áreas de atuação no setor financeiro e fora dele, divulgada algumas horas antes da prisão de Vorcaro e da decretação da liquidação do banco.

Todas essas "galinhas" apareceram em menos de uma semana. Mas não saíram do ovo agora. Estavam cacarejando normalmente no mercado até então. Resta acompanhar de perto suas relações e desdobramentos, confiando na capacidade das instituições de investigarem da maneira correta, conduzirem o processo com lisura e diferenciarem culpados e inocentes, de forma que a conta chegue na mesa certa e a tempo de ser paga.

O ano de 2025 testa a capacidade do investidor de confiar nas instituições. Logo antes do escândalo do Banco Master, tivemos a decretação da falência da Oi, operadora que conseguiu a proeza de entrar duas vezes seguidas em recuperação judicial e sair ainda mais quebrada. Dançou com o dinheiro de mais de 230 mil investidores que tinham suas ações.

Antes disso, outra companhia da Bolsa, a Ambipar, pediu proteção contra credores logo depois de ter inflado de maneira artificial o preço das suas ações em 3.000%. Ainda nos últimos meses, a gestora Reag, que também negociava seus papeis em Bolsa, ganhou destaque no noticiário com a Operação Carbono Oculto, em investigação que aponta o uso de estruturas financeiras ligadas à Faria Lima para lavar bilhões do crime organizado (o famoso PCC).

Pode parecer tudo muito recente, para que se cobre resultados. Mas a verdade é que celeridade não costuma ser o forte nacional na defesa de pequenos investidores.

No começo do ano, a PDG Realty virou notícia ao divulgar um documento falso, com o que seria uma oferta de compra por uma multinacional chinesa, fazendo o preço das suas ações saltarem na Bolsa. A Comissão de Valores Mobiliários, xerife do mercado, anunciou a abertura de um processo administrativo para investigar o caso em fevereiro. As lojas já estão enfeitadas para o Natal, mas não há sinal de decisão.


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