domingo, 23 de novembro de 2025

Celso Fernandes Campilongo e Torquato Castro Jorge Messias e o STF: a técnica e o diálogo como fundamentos institucionais, FSP

 

Celso Fernandes Campilongo

Diretor da Faculdade de Direito da USP

Torquato Castro

Diretor da Faculdade de Direito do Recife da Universidade Federal de Pernambuco

indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, ao Supremo Tribunal Federal deve ser compreendida pela perspectiva do fortalecimento institucional do Estado Democrático de Direito.

Em um cenário de tensões entre os Poderes, o país necessita de ministros técnicos, capazes de moderar conflitos, construir consensos e sustentar o diálogo republicano. A trajetória de Messias revela precisamente esse perfil.

Advogado de terno, gravata e toga preta fala com expressão séria em tribunal, gesticulando com a mão direita próximo a microfone.
O advogado-geral da União, Jorge Messias, em sustentação oral no STF - Victor Piemonte - 1º.out.2025/STF

Ao longo de sua carreira, Jorge Messias construiu um modo de atuação técnico e dialogado, reconhecido por quem acompanhou sua prática nos espaços mais sensíveis do Estado. Na Advocacia-Geral da União (AGU), priorizou soluções consensuais, reduziu litigiosidades e conduziu negociações complexas sem ampliar tensões.

A aprovação de seu nome pelo Senado Federal, na dinâmica das relações entre Executivo e Legislativo, deve levar em conta sua trajetória e seu temperamento institucional, marcado por discrição, prudência, técnica e espírito público.

É simplificadora a tentativa de reduzir sua indicação a um mero vínculo de confiança com o presidente da República, na qualidade de ministro da AGU (assim como tantos outros ex-ministros da AGU que foram indicados).

Essa leitura ignora que Jorge Messias construiu sua trajetória no serviço público, aprovado em dois concursos públicos de primeira linha (procurador do Banco Central e procurador da Fazenda Nacional), além de ter sua formação acadêmica construída com robustez, sempre em universidades públicas (graduação em direito na tradicional Faculdade de Direito do Recife e mestrado e doutorado na Universidade de Brasília).

Sua carreira foi marcada pela atuação técnica na advocacia pública, pela racionalidade jurídica da legalidade administrativa e pela condução profissional em diálogo com todos os setores da sociedade e governos estaduais e municipais, sem distinção de qualquer coloração partidária.

Querer pesar a sua indicação apenas no elemento político desconsidera que Messias é um jurista formado na cultura da institucionalidade do serviço público e da legalidade administrativa. Por isso, é incorreto identificar sua indicação como um movimento que pode ampliar a politização da corte. Uma vez ministro, a sua atuação tende a ser igualmente técnica e dialógica, como demonstra o seu histórico profissional de servidor público da AGU.

O Supremo Tribunal Federal cumpre papel central na estabilização do sistema político. A função de moderar crises federativas, proteger direitos fundamentais e controlar políticas públicas exige ministros com capacidade de diálogo e compreensão da arquitetura constitucional. A experiência de Messias na AGU, órgão vocacionado a preservar a cultura da legalidade entre poderes, é relevante: conduziu litígios estruturantes, participou de pactuações federativas e coordenou respostas jurídicas em temas de alta complexidade.

Por sua experiência, equilíbrio e profissionalismo, Jorge Messias reúne os requisitos constitucionais para contribuir com a estabilidade institucional e o aprimoramento da justiça constitucional brasileira. Sua indicação representa um passo seguro para um STF mais técnico, mais sereno e mais comprometido com a legalidade e com a República. Afinal, em tempos de ruídos, um ministro técnico e do diálogo não é apenas desejável. É indispensável.

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