domingo, 26 de outubro de 2025

Brasil pode ser nova potência global, Camila Rocha, FSp

 O Brasil é um país grande e importante. Essa foi a resposta de Marco Rubio, secretário de Estado dos Estados Unidos, ao ser questionado sobre o objetivo do encontro entre Donald Trump e Lula em Kuala Lampur, na Malásia.

Ainda que as tarifas impostas por Trump tenham prejudicado a economia norte-americana, existem interesses de longo prazo em jogo na aproximação entre os dois países. Rubio afirma que os Estados Unidos querem se tornar os parceiros comerciais preferenciais do Brasil em detrimento da China. A missão não será fácil.

Dois homens em trajes formais apertam as mãos diante de cortinas azuis. À esquerda, bandeira dos Estados Unidos; à direita, bandeira do Brasil.
O presidente Lula durante encontro com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na 47ª Cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático, na Malásia

Após o tarifaço americano, o Brasil registrou em agosto um incremento de 30% nas exportações para a China e um recuo de 18% nas vendas para os EUA. Além disso, Lula já afirmou que "o mundo de hoje não aceita mais uma nova Guerra Fria" e que o Brasil quer estar "do lado de todos os países do mundo que queiram fazer negócio conosco". Mas não qualquer negócio.

Dias antes de seguir para a Malásia, Lula declarou em Jacarta, na Indonésia, que o Brasil "não quer reproduzir a condição de meros exportadores de commodities". Citou como inspiração a própria Indonésia, que incentiva o processamento de minério bruto em seu próprio território.

O modo como o Brasil irá lidar com os chamados minerais críticos é de extrema importância em meio à rápida transição para um novo sistema energético. Não à toa, tais minerais estão no topo das parcerias estratégicas que o governo brasileiro deve propor ao governo norte-americano.

Na Indonésia, Lula destacou a criação do Conselho Nacional de Política Mineral como um passo fundamental para garantir a soberania do Brasil no setor. Porém, para que o país possa, de fato, aproveitar todo o seu potencial, há muito mais a ser feito.

De acordo com economistas do Net Zero Industry Policy Lab, abrigado na Johns Hopkins University, o Brasil, com seu tamanho e riqueza de recursos, pode se tornar uma potência de primeira linha na ordem geopolítica emergente, ao lado da China, dos Estados Unidos e da Rússia

O país pode liderar setores críticos para a economia verde global de 2050, como metais de transição, biocombustíveis, aço de baixo carbono, fabricação de turbinas eólicas e fabricação de aeronaves. O Brasil possui tudo o que é necessário para se tornar um grande produtor e exportador de energia, materiais e tecnologia: reservas significativas de petróleo e gás e expertise, além de minerais essenciais, recursos renováveis, biocapacidade e base industrial.

Porém, para aproveitar todo esse potencial, é preciso fazer a lição de casa. Isso inclui: concentrar a política industrial em subsetores ou áreas tecnológicas específicas; evitar a dispersão dos 60 bilhões de dólares alocados para a Nova Indústria Brasil (NIB); se firmar em setores altamente competitivos; ter um plano claro de colaboração entre governo, empresas, sindicatos, sociedade civil e especialistas independentes; e investir em sinergias entre educação, inovação e indústrias estratégicas, seguindo os modelos da Embraer, da Embrapa e da Petrobras.

Mas a principal lição é, segundo a especialista Carlota Perez, evitar a (re)primarização e a dependência de commodities. Ao que tudo indica, ao menos no discurso, começamos bem.

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