"Vamos botar fim na bandidagem", dizia o governador do Rio de Janeiro, anunciando uma operação da Polícia Civil a bordo do helicóptero onde um "atirador de elite" disparava tiros em direção a favelas.
O governador desse episódio não é Cláudio Castro (PL), mas um antecessor nos métodos: o ex-juiz federal e governador Wilson Witzel (PSC).
Os fatos ocorreram em 2019. Witzel era governador eleito do Rio. Foi afastado em 2021 e condenado em processo de impeachment por corrupção.
Era considerado um aliado de Bolsonaro, que teria rompido quando o ex-juiz anunciou intenção de se candidatar à Presidência da República.
No Senado, responsabilizou Bolsonaro pelas mortes na pandemia.
Cláudio Castro, que foi vice-governador de Witzel, considerou "um sucesso" a Operação Contenção contra o Comando Vermelho.
"Tirando a vida dos policiais, o resto da operação foi um sucesso", disse o governador. "De vítima, ontem, lá, só tivemos os policiais."
Witzel ameaçava a bandidagem, em Angra dos Reis: "Não sai de fuzil na rua, não. Troca por uma Bíblia. Se você sair [com um fuzil], nós vamos te matar".
Enquanto alimentava planos de graduação para atiradores durante voo e lançamentos de bombas em drones, Witzel visitava quartéis da PM e fazia flexões no chão. Demonstrações de força física, valores da caserna.
"Essa foi, de verdade, a maior operação policial da história do Rio de Janeiro, e eu espero que ela permaneça, porque o Rio precisa de operações como estas todos os dias", disse o senador Flávio Bolsonaro (PL), ao elogiar Castro.
Quando a prisão do pai inelegível ficou inescapável, o 01 apelou para a estratégia entreguista do 03: apontar aos gringos os alvos a serem bombardeados. Nos rios, na costa litorânea, na Amazônia e entre opositores no Congresso. No Judiciário, Alexandre de Moraes foi o primeiro a entrar na mira.
Na época das provocações de Witzel havia outro Bolsonaro por perto.
O ex-juiz federal Eduardo Cubas, então presidente da minúscula União Nacional dos Juízes Federais do Brasil, com sede em Goiás, concedeu uma medalha a Witzel pela "defesa dos direitos humanos".
Witzel foi denunciado à ONU e à OEA pelo recorde de mortes em operações policiais.
Ao lado do deputado federal Eduardo Bolsonaro, Cubas questionou a segurança das urnas eletrônicas em vídeo gravado diante da sede do Tribunal Superior Eleitoral. Aconteceu às vésperas das eleições de 2018.
O mito da urna eleitoral vulnerável a fraudes ajudou a eleger Jair Bolsonaro (PL) e estimulou o clima que levou aos atos golpistas do 8 de Janeiro.
Cubas adulou o comando do Exército. Apoiou a greve dos caminhoneiros. Foi aposentado compulsoriamente em 2024, em decisão unânime do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), um prêmio depois de cinco anos de chicanas.
Jogador de pôquer, campeão em disputas internacionais pela internet, Cubas sabia blefar e tinha cacife para contratar a defesa do advogado Eugênio Aragão, ex-ministro da Justiça.
A Operação Contenção superou o massacre do Carandiru, cujos policiais militares foram anistiados por Bolsonaro. O ex-presidente recebeu medalha pelo ato, iniciativa do governador bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Na ocasião, o governador paulista também homenageava a tropa do então secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, cuja política de defesa da sociedade considerava "falha procedimental" espancar cadeirante ou jogar suspeito de uma ponte.
Tarcísio distribuiu medalhas a presidentes do Tribunal de Justiça, ocupou a agenda institucional e os espaços da corte para promover a Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar).
O clima de terror no Rio foi instalado às vésperas do desfecho da ação penal contra o ex-presidente.
O processo poderá ser encerrado em dezembro, com o início da prisão de Bolsonaro ainda neste ano.
A macabra exibição de corpos ao longo de uma grande avenida, filmada no mesmo ângulo dos drones em que o Comando Vermelho despejava bombas, sugere um sinistro recado.
Não venham atrapalhar nossos negócios.

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