sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Homenagem e protesto expõem dor de dois lados da operação mais letal do país, FSP

 

Rio de Janeiro

Quatro cruzes cobertas com camisas das polícias Militar e Civil foram fincadas nas areias da praia de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, no fim da tarde desta quinta-feira (30). A homenagem da ONG Rio de Paz lembrou os quatro agentes mortos durante a Operação Contenção, deflagrada na terça (28) nos complexos do Alemão e da Penha, que deixou 121 mortos, segundo balanço do governo fluminense.

As cruzes traziam fotos dos sargentos Heber Carvalho da Fonseca, 39, e Cleiton Serafim Gonçalves, 40, ambos do Bope, além dos policiais civis Marcus Vinícius Cardoso de Carvalho, 51, conhecido como Máskara, e Rodrigo Velloso Cabral, 34. As imagens foram colocadas abaixo das camisas que representavam as corporações.

Cinco cruzes com camisas de policiais estão fincadas na areia de uma praia à noite, cercadas por placas com mensagens de memória e direitos humanos. A placa central diz: "Em memória dos policiais civis e militares que tombaram por nós". À esquerda, placa afirma: "Policial não existe para matar e sim para nos proteger". À direita, placa diz: "Direitos humanos não tem lado". Ao fundo, há dois gols de futebol de areia.
Cruzes com camisetas e flores são montadas na praia de Copacabana em ato da ONG Rio de Paz em homenagem aos policiais mortos durante a operação nos complexos do Alemão e da Penha - Rafael Henrique/Divulgação ONG Rio de Paz

Horas antes, os corpos dos dois militares haviam sido velados na sede do Bope, em Laranjeiras, na zona sul, em cerimônia que reuniu colegas de farda, familiares e autoridades. O secretário da PM, coronel Marcelo Menezes, compareceu ao velório e prometeu "resposta à altura desses heróis".

"Esses policiais foram atacados por narcoterroristas. Fizemos um planejamento meticuloso para proteger a população daquela região. A operação foi exitosa, e o sacrifício deles não será em vão", disse Menezes.

Os dois policiais civis mortos —Marcus Vinícius e Rodrigo Cabral— haviam sido sepultados na quarta-feira (29). O primeiro, no Cemitério da Cacuia, na Ilha do Governador; o segundo, no Memorial do Rio, em Cordovil. Ambos foram atingidos durante confronto na chegada das equipes ao Complexo da Penha.

No centro do Rio, familiares de pessoas mortas na operação bloquearam no início da noite, por cerca de uma hora, a avenida Francisco Bicalho, em frente ao IML (Instituto Médico Legal). A via conecta centro, rodoviária e vias expressas como linha Vermelha e avenida Brasil, além da ponte Rio-Niterói.

Dezenas de pessoas deram as mãos e ficaram de joelhos, pedindo justiça e agilidade na liberação dos corpos.

Grupo de manifestantes ajoelhados no meio de uma via urbana bloqueando o trânsito. Ao lado esquerdo, viatura policial azul e branca parada. Pessoas observam a cena na calçada ao fundo.
Parentes de mortos em operação fecham avenida Francisco Bicalho, no centro do Rio, em protesto em frente ao IML - Reprodução/Globonews

Os manifestantes afirmaram que o IML havia encerrado o expediente e impedido novas identificações, o que gerou revolta entre as famílias —algumas delas disseram estar no local desde quarta-feira (29), sem respostas. Policiais militares usaram spray de pimenta para dispersar o grupo e liberar o trânsito por volta das 18h30.

Segundo a Polícia Civil80 corpos haviam passado por necropsia até a noite de quarta-feira, mas apenas seis tinham sido liberados. A Defensoria Pública, que diz ter atendido 106 famílias, afirmou que pediu para acompanhar as perícias, mas que o acesso ao IML foi negado.

O processo de identificação é feito por senhas: parentes preenchem fichas com características das vítimas, como tatuagens ou marcas de nascença, e aguardam o contato da polícia para o reconhecimento e posterior emissão da certidão de óbito.

O governo do Rio afirma que, das 121 mortes registradas, 117 seriam de pessoas ligadas ao tráfico de drogas, além dos quatro policiais. A operação, segundo o governador Cláudio Castro (PL), "foi um sucesso", apesar das mortes de agentes de segurança.


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