A ficção pode ser a melhor forma de retratar a realidade, diz o psicanalista Leopold Nosek, convidado desta semana do Ilustríssima Conversa.
Criar narrativas para dar sentido ao mundo é inevitável, ele diz, e essa é a base do que chama de método Marlow, inspirado no protagonista do romance "Coração das Trevas" e título do seu livro recém-publicado.
"O Método Marlow: Ensaios Indisciplinares em Psicanálise" (Perspectiva) reúne ensaios recentes que abordam temas como os tipos de sofrimento psíquico relacionados ao espírito do tempo atual e textos que documentam a sua trajetória intelectual e clínica de décadas.
Nesta entrevista, Nosek diz ver em seu consultório discursos que pouco avançam em elaborações mais abstratas, que refletem "patologias de pobreza imaginativa" –algo muito semelhante à avaliação que faz das ideologias do presente, que considera muito pouco sofisticadas.
A gente começa a perceber no consultório uma coisa que o Freud percebeu no pós-guerra e que Walter Benjamin falava: essas pessoas que voltam da guerra sem histórias para contar, sem construir uma narrativa. As patologias contemporâneas começaram a ter essa ausência de construção narrativa ou de construção onírica, que é um tipo de construção que ocorre de noite, mas também enquanto eu estou falando aqui, quem está me ouvindo está fazendo trajetos imaginativos oníricos. Então, tem uma vida onírica de vigília. O que a gente vê são pobrezas de construção onírica. Tem toda uma transformação da clínica
Para o autor, a subjetividade moldada por ideais como o empreendedorismo e a meritocracia faz com que os sujeitos, que se consideram seus próprios patrões, passem a competir com o próprio relógio: todos têm que ser campeões, ele diz, e, ao mesmo tempo, vivemos em um mundo cada vez mais marcado pelo medo e pela incerteza.
Nosek também discutiu a atualidade da psicanálise. Para ele, não se trata de um campo anacrônico ou ultrapassado, mas de uma prática que, em vez de interpretar sonhos, pode ajudar os pacientes a construir sonhos em um mundo sombrio.
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O podcast entrevista, a cada duas semanas, autores de livros de não ficção e intelectuais para discutir suas obras e seus temas de pesquisa.
Já participaram do Ilustríssima Conversa Ernesto Mané, que afirma que o colonialismo e o racismo se entrelaçaram com a sua história familiar, o jornalista Jamil Chade, a psicanalista Vera Iaconelli, Fred Coelho, pesquisador da contracultura no Brasil, Sérgio Rodrigues, autor de livro sobre a escrita em tempos de domínio da inteligência artificial, Walquiria Leão Rego, socióloga que estuda a extrema pobreza no Brasil, Diogo Bercito, que desenvolve pesquisas sobre a imigração árabe no Brasil, Cecília Olliveira, jornalista e autora de livro sobre as milícias no Rio de Janeiro Renato Ortiz, sociólogo que escreveu sobre o universo dos influenciadores digitais, José Eli da Veiga, autor de livro sobre o pensamento econômico no Antropoceno, Juliano Spyer, antropólogo que se dedica ao universo evangélico no Brasil, entre outros convidados.
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