sexta-feira, 17 de outubro de 2025

Barroso decide votar ação que pede descriminalização do aborto até as 12 semanas, FSP

 Ana Pompeu

Brasília e São Paulo

O ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), decidiu votar na ação que descriminaliza o aborto até a 12ª semana de gestação como um de seus últimos atos na corte antes da aposentadoria. Ele deve votar a favor da legalidade do procedimento.

Nesta sexta-feira (17), o ministro pediu ao presidente da corte, Edson Fachin, uma sessão virtual extraordinária para que possa deixar seu voto registrado antes de deixar o tribunal neste sábado (18).

O ministro deixou indefinido até os últimos momentos se votaria na ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) 442, que retira a punição pela interrupção voluntária da gravidez. Caso não votasse, o direito à manifestação passaria para o ministro que ocupar sua vaga —hoje, o mais cotado é o advogado-geral da União, Jorge Messias.

Ministro do Supremo Tribunal Federal sentado em cadeira de couro marrom claro, vestindo terno escuro e segurando uma xícara branca. Mesa à frente com microfone, garrafa de água, copo e laptop.
O ministro do STF Luís Roberto Barroso - Antonio Augusto -9.ago.2025/Divulgação

Com a posição de Barroso, a ação fica com dois votos pela descriminalização. No momento não há votos contrários, pois apenas a agora ministra aposentada Rosa Weber também votou. Assim como Barroso, ela o fez como último ato antes de se aposentar do tribunal, em setembro de 2023.

Barroso comunicou hoje pela manhã a alguns ministros que faria esse movimento, deixando colegas do STF espantados.

No fim da gestão de Rosa como presidente e como ministra da corte, ela incluiu a ação do PSOL no plenário virtual e votou pela descriminalização, usando como argumentos os direitos reprodutivos e a autonomia das mulheres.

Pouco depois da inclusão do voto no ambiente remoto, Barroso pediu destaque, o que levaria o tema à discussão em plenário presencial. Nos bastidores, fala-se que os dois combinaram o movimento para que a então relatora pudesse registrar o voto dela no tema, já que tinha conduzido a tramitação até então, chamado audiência pública e escrito sua manifestação.

Nesta sexta, ele pediu o cancelamento do destaque, o que recoloca o julgamento no plenário virtual. Com isso, pode deixar registrado a posição.

Barroso é conhecido por defender a descriminalização do aborto, e chegou a atuar como advogado na ação do STF que descriminalizou o procedimento em casos de anencefalia fetal, em 2012, antes de se tornar ministro da corte.

Apesar disso, o magistrado não pautou a ADPF 442 durante sua gestão na presidência do tribunal, que terminou em setembro de 2025, frustrando movimentos feministas. Barroso repetiu ao longo de sua gestão que o país não estaria pronto para deliberar sobre o aborto, e que só poderia colocar em pauta a ação quando houvesse amplo apoio popular.

Nos bastidores, diz-se o que Barroso teria estimado o voto dos colegas e achava que a ação terminaria com derrota para o movimento pela descriminalização.

Também por isso, a decisão definitiva para votar teria sido tomada apenas na noite de quinta (16), véspera da saída dele da corte.

Em 2016, quando a Primeira Turma da corte entendeu que o aborto não é crime se feito até o terceiro mês de gestação, a decisão foi tomada com os votos de Barroso, Fachin e Rosa. A decisão foi tomada em um caso concreto, sem repercussão geral. Mas animou setores feministas para articularem a construção da ADPF 442, apresentada em 8 de março de 2017.

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