A autorização do Ibama para a Petrobras procurar petróleo na Foz do Amazonas esquentou o debate sobre a posição do governo Lula na transição para longe dos combustíveis fósseis. Tomada a 20 dias do início da COP30, a decisão pareceu um chamado para a briga —o Ministério Público Federal já contestou a licença concedida— e reforçou as dificuldades do país em uma agenda nevrálgica para as negociações climáticas.
A justa comoção em torno dos combustíveis fósseis não pode eclipsar um outro campo de batalha no qual o Brasil tem posição mais vantajosa para tomar as decisões certas. Assim como é necessário traçar o caminho de saída da dependência do petróleo, alcançar a meta de desmatamento zero em 2030 e se tornar modelo mundial na proteção e restauro de florestas é um caminho que o Brasil já está trilhando e precisa continuar.
Esse caminho não é só nosso. Como ressaltado pela ministra Marina Silva na recente pré-COP30, é necessário desenvolver um mapa do caminho para o desmatamento zero no nível global. Sem investimento em conservação de ecossistemas vitais e em soluções baseadas na natureza, perderemos a oportunidade de usarmos o recurso mais acessível para reduzir as emissões no curto prazo —as florestas— e na estratégia de transição para a nova economia verde.
Um estudo recém-divulgado pelo grupo de conselheiros econômicos da presidência da COP30 calcula que a reversão do desmatamento na amazônia brasileira poderia gerar US$ 784 bilhões em 30 anos e capturar até 26 gigatoneladas de CO₂. Fazendo as contas tanto do valor da floresta em pé quanto de seu restauro, a conclusão é a de que nela está a principal solução climática natural disponível. Impedir o desmatamento e repor o que foi perdido é a tecnologia mais barata e factível para a essencial captura do carbono em grande escala.
Dono de 60% da maior floresta tropical do mundo, o Brasil tem trazido centralidade ao tema. Para isso, o mapa do caminho para o desmatamento zero é peça fundamental na negociação de compromissos climáticos na COP de Belém. Isso é essencial para que haja a continuidade formal na agenda da ONU, onde o tema entrou de forma voluntária com a Declaração de Glasgow, em 2021, e ganhou força em 2023 com o Consenso de Dubai —decisão de todos os líderes para deter e reverter o desmatamento até 2030.
As indicações são claras. O caminho começa no combate ao crime ambiental –90% do desmatamento na amazônia brasileira é ilegal, um padrão semelhante ao de outros países tropicais. Isso demanda uma ação multissetorial, seguindo o caminho que transforme os ecossistemas de crimes ambientais em ecossistemas de empreendimentos verdes, inclusivos e compatíveis com a floresta.
Avançar nessa direção, do local ao global, requer fortalecer a cooperação internacional, envolver o setor privado como parceiro responsável para rastrear as cadeias de suprimentos, fechar as brechas dos fluxos financeiros ilícitos globais e investir nas bioeconomias com capacitação técnica e inclusão. O mapa se completa com o desenvolvimento de mecanismos inovadores de finanças para florestas e natureza, como o Fundo de Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) e muitos outros.
Entre o fim do combustível fóssil e o do desmatamento, a gravidade da crise climática exige ambos. Embora o desmate responda por cerca de 10% das emissões globais —o que não é pouco—, o jogo da COP não é de soma zero.
Está nas nossas mãos tornar as florestas e as soluções baseadas na natureza o legado do país, e o Brasil não pode perder essa chance. Por nós, brasileiros, e por todo o mundo.

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