sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Inclusão, diversidade e pluralismo na bossa nova, Alvaro Costa e Silva, FSP

 Inclusão, diversidade e pluralismo. É o contra-argumento que o crítico musical Tárik de Souza usa para rebater um dos mais equivocados clichês da música brasileira —o de que a bossa nova, com sua fusão de samba e jazz e sua arte de vanguarda, foi um movimento elitista, privilégio restrito a rapazes e moças da branca zona sul carioca.

No recém-lançado "João Gilberto e a Insurreição Bossa Nova", Tárik se vale da autoridade de quem escreve sobre música popular desde a década de 1960, mesclando rigor jornalístico e acuidade de ensaísta, para contestar essa visão sociológica, propagada pelo pesquisador José Ramos Tinhorão, com inúmeros exemplos. A começar por João Gilberto, baiano de Juazeiro que fundou a escola da modernidade e que tem toda sua discografia, sobretudo os três primeiros LPs, discorrida em profundidade no livro.

João Gilberto em show de 1988 no Sesc Vila Mariana
João Gilberto em show no Sesc Vila Mariana em 1988 - Divulgação

No período pré-João, com Johnny Alf (o "Genialf", apelido dado por Tom Jobim), um preto que foi o primeiro pai da matéria, nascido na Tijuca, filho de uma empregada doméstica com um cabo do Exército. Com João Donato, que trouxe de longe —do Acre— a maneira bailada de brincar com as teclas do acordeão e do piano.

Antes de ganhar o planeta e influenciar o próprio jazz e a música pop, a batida diferente sacudiu o Brasil ao penetrar em suas camadas mais populares. O autor elenca fatos surpreendentes e aproximações para lá de improváveis. Em 1960, a chanchada "Pistoleiro Bossa Nova" chegava aos cinemas —uma das atrações era Carlinhos Lyra interpretando "Maria Ninguém". Um ano antes, Vicente Celestino, com seus dós de peito que eram a antítese da elegância zen de João, gravou "Se Todos Fossem Iguais a Você", de Tom e Vinicius.

Herdeiro de Cartola, o mangueirense Padeirinho aprovou a novidade com "Modificado" ("E eu também gostei daquilo/ Modificando o estilo de meu samba tradição"). E quem diria que o banjo de Almir Guineto, o tantã de Sereno e o repique de Ubirany, base da revolução do pagode, tinham influência da bossa nova?

Uma vez samba, sempre samba.

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