domingo, 19 de outubro de 2025

O Brasil dos bancos, sob a ótica do Nobel, Marcos de Vasconcellos, FSP

 Cinco das dez maiores empresas do Brasil são bancos. Entre as dez maiores economias do mundo (somos a décima, a medir pelo PIB), essa concentração do setor financeiro no topo da escala econômica se repete unicamente no Canadá, com sete representantes na lista.

Nos Estados Unidos, não há um banco no "top 10"; na China e na Índia, são quatro. Na Alemanha e no Japão, dois. Sempre medindo pelo valor de mercado, que é o preço das ações multiplicado pelo número de papéis.

Retratos lado a lado de três homens: o primeiro com cabelo grisalho e jaqueta azul, o segundo com óculos, cabelo escuro e terno com gravata, o terceiro careca usando camisa azul.
Joel Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt, vencedores do Nobel de economia - Montagem sobre fotos AFP

Além de servir de curiosidade para puxar assunto no trabalho, esse dado deveria plantar uma pulga atrás da sua orelha em relação ao futuro do país. Quem diz isso, nas entrelinhas, são os ganhadores do último Nobel da economia (ou, mais precisamente, do Prêmio Sveriges Riksbank em Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel).

O prêmio deste ano foi concedido na última segunda-feira (13) a Joel Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt, por suas contribuições ao entendimento de como a inovação tecnológica impulsiona o crescimento econômico de longo prazo. Howitt e Aghion são autores do livro "The Economics of Growth" (A Economia do Crescimento, em tradução livre), onde exploram bem o conceito de "destruição criativa".

Segundo essa teoria, a inovação estimula o crescimento, ainda que gere significativas perdas para empresas que ficam obsoletas. E onde entram os bancos nisso? Esse avanço depende de investimento em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), que, por sua vez, precisa de um sistema financeiro eficiente.

Temos uma tecnologia bancária invejada no mundo todo. Exportamos o Pix, dominamos os meios de pagamento e nossos bancos registram lucros mais robustos a cada trimestre, mesmo em crises prolongadas.

No entanto, pelo modelo da "destruição criativa", o sistema financeiro robusto não deveria levar à concentração. Muito pelo contrário, deveria ser o óleo que viabiliza a troca do dinheiro de mãos, levando capital de setores maduros para iniciativas inovadoras.

Aghion e Howitt mostram que países com bons sistemas financeiros têm maior potencial de crescimento, mas apenas se essas finanças estiverem a serviço da inovação. Um sistema bancário grande pode ser sinal de dinamismo, mas também de captura do crédito privado.

O tratamento dado ao crédito privado no Brasil, aliás, deveria estar no seu radar. Nesta semana, Jamie Dimon, CEO do JPMorgan Chase —o maior banco do planeta fora da China— emitiu um sinal amarelo ao comentar o fato de duas gigantes pedirem falência, deixando dívidas preocupantes penduradas nos bancos dos Estados Unidos.

"Onde há uma barata, provavelmente há mais", disse Dimon, vislumbrando um possível endividamento insustentável de companhias por lá. E, como a história econômica ensina, um espirro em Nova York costuma virar gripe em São Paulo.

O Brasil tem celebrado a expansão do crédito privado, sem muita discussão sobre seu destino. Financiamos consumo, rolagem de dívidas, mas pouco apostamos, de maneira estrutural, em inovação e P&D.

Sem destruição criativa, não há convergência possível —continuaremos país de intermediação, não de invenções que levem ao crescimento econômico. A boa notícia é que temos espaço para explorar isso.


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