sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Ministério da Agricultura Familiar pede R$ 50 milhões para estocar produtos e blindar setor do tarifaço, FSP

 

Brasília

O MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar) solicitou um reforço orçamentário de R$ 50 milhões em crédito extraordinário para apoiar cooperativas e associações do setor afetadas pela sobretaxa de 50% imposta pelos Estados Unidos.

Conforme informações obtidas pela Folha, o pedido foi enviado ao MPO (Ministério do Planejamento e Orçamento), responsável por analisar o pleito e autorizar o repasse do orçamento federal. Por meio de nota, o MPO declarou que "não se manifesta sobre eventuais pedidos de crédito em andamento".

Cooperativas de produção de castanha de caju estão entre os potenciais beneficiados do crédito extraordinário

Do total solicitado, R$ 30 milhões seriam aplicados de forma imediata para socorrer produtores de mel, castanha-do-pará e castanha de caju —setores que, segundo o MDA, estão entre os mais atingidos pelas tarifas impostas pelo presidente americano Donald Trump.

Pequenos produtores de laranja também seriam alcançados pelo recurso, apesar de a fruta ter escapado da sobretaxa de 50%, ficando com a tarifa de 10%.

A medida propõe que o socorro seja feito por meio do PAA (Programa de Aquisição de Alimentos). Criado em 2023, esse programa público prevê a compra produtos da agricultura familiar pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) para formação de estoques e apoio a programas sociais de combate à fome.

O pedido está embasado em reflexos econômicos já sentidos pelos produtores, com retração nas exportações. O setor de mel, que vende grande parte de sua produção para os EUA, estima uma queda de até 40% no volume exportado desde o início do tarifaço de 50%, em 6 de agosto.

Uma situação parecida atinge as cadeias da castanha-do-pará, típica da Amazônia, e da castanha de caju, mais concentrada no Nordeste, especialmente nos estados Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte.

Mais de 70% da produção nacional desses três produtos vêm da agricultura familiar e do extrativismo, daí a preocupação com o impacto social. Segundo a pasta, a medida pode evitar um colapso de preços internos e a perda de renda de cerca de 18 mil famílias que atuam na cadeia produtiva.

Com o aumento das tarifas, os produtos ficaram menos competitivos no mercado internacional, levando ao acúmulo de estoques e à queda nas receitas das cooperativas. O governo teme que, sem o apoio emergencial, pequenos produtores fiquem inadimplentes, abandonem a atividade ou sejam forçados a vender a produção por valores abaixo do custo.

Os R$ 20 milhões restantes seriam usados em outras modalidades do Programa de Aquisição de Alimentos, como a "compra com doação simultânea", que adquire alimentos para doação a instituições assistenciais.

O pedido esbarra em um cenário fiscal preocupante. O total indisponível para os ministérios chegou a R$ 12,1 bilhões neste ano. O pedido de R$ 50 milhões seria um crédito extraordinário a ser liberado pelo Tesouro Nacional, ou seja, fora do orçamento regular da pasta.

O MDA argumenta, no entanto, que o custo fiscal é baixo diante do impacto social que a iniciativa pode gerar, evitando desemprego rural e desestruturação de produção em regiões já vulneráveis.

O ministro Paulo Teixeira confirmou o plano à Folha. "Depois da notícia de que os Estados Unidos finalmente aceitam abrir uma negociação, esperamos que as tarifas caiam pela via diplomática. Mas enquanto isso o governo do presidente Lula trabalha em conjunto para evitar que nossos produtores tenham prejuízos", afirmou.


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