Sou anglófilo, como boa parte da minha geração. Mas essa anglofilia é mais imaginária do que real: a Inglaterra que me interessa existe na minha cabeça —feita de livros, músicas, arte, filmes e de lugares que pertenceram a outro tempo.
Como dizia Eça de Queirós sobre o "francesismo" dos portugueses, eu também importo tudo: ideias, filosofias, teorias, assuntos, estéticas, ciências, modas e bobagens —que me chegam em caixotes pelo paquete, como nos velhos navios de correio.
A Inglaterra real de hoje é outro planeta: uma sociedade tribalizada, que formou ou acolheu fanáticos antissemitas —e que tolera passeatas que clamam pelo genocídio. Amigos judeus me dizem com frequência que já não se sentem seguros em certos lugares do país.
Acredito neles. E confirmo seus temores: o Daily Telegraph informa que a partida entre Aston Villa e Maccabi Tel Aviv, pela Liga Europa, não terá a presença da torcida israelense.
"Questões de segurança", dizem as autoridades de Birmingham —um belo eufemismo, uma bela rendição. Julgava eu que a função da polícia seria garantir essa segurança sem excluir, à partida, um grupo nacional inteiro.
Se há selvagens entre os torcedores do Maccabi, que eles sejam vigiados e impedidos de entrar. Se há selvagens antissemitas do outro lado, que eles também o sejam.
Mas essas evidências não parecem pesar na Inglaterra atual. Semanas atrás, o conhecido clérigo muçulmano de Birmingham Asrar Rashid escreveu nas redes sociais: "Quando a torcida de Tel Aviv chegar, não teremos qualquer piedade para com eles."
Na minha opinião, eis um exemplo perfeito de "discurso de ódio" com incitamento à violência. Não consta, porém, que Rashid tenha sido investigado pela polícia. Esses privilégios parecem recair apenas sobre certos humoristas —como Graham Linehan, detido no aeroporto de Heathrow em setembro após postar uma piada sobre criminosos que se fazem passar por mulheres trans para cumprir pena em presídios femininos.
O primeiro-ministro Keir Starmer condenou com veemência a exclusão da torcida israelense. Mas o que pensa fazer? Enviar o Exército a Birmingham para confrontar radicais islamistas?
Ou permitir que o termo "Judenrein" —contra o qual seus antepassados lutaram— acabe por se instituir no país que ele governa?
Melhor não apostar.
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