A sexta estrela tornou-se inatingível. O Brasil caiu para a Croácia nesta sexta-feira (9) nos pênaltis nas quartas de final da Copa do Mundo do Qatar, encerrando o ciclo de Tite e dando um golpe na geração de Neymar, que não tem conseguido se aproximar de seus ilustres antecessores.
A seleção chegou ao Qatar com todos os ventos a seu favor para pôr fim a vinte anos sem conquistar o maior troféu do futebol: uma defesa sólida, um ataque devastador com um Ney em grande forma e um treinador de pergaminho respeitado pelo grupo.
O bom início do time no torneio despertou esperança, mas também marcou o início de uma tendência negativa que afetou peças-chave: Neymar e o lateral Danilo, principal titular de Tite, machucaram os tornozelos e só voltaram até o jogo contra a Coreia do Sul, nas oitavas.
Eles foram seguidos pelos laterais esquerdos Alex Sandro e Alex Telles e pelo atacante Gabriel Jesus. Os dois últimos saíram permanentemente.
Para aumentar a dor, ao cair nas quartas de final contra a Croácia, a equipe de Neymar não conseguiu superar o desempenho na Rússia-2018. E sua melhor atuação nos últimos tempos, a semifinal de 2014 em casa, foi marcada pela humilhação diante da campeã Alemanha (7 a 1).
CARREGAR O PESO
Tantos anos de seca para um time que só aceita a vitória acumularam expectativas imensas nos ombros de alguns jogadores que brilham na Europa, mas que há um ano e meio já haviam recebido um golpe: a derrota na final da Copa América contra a Argentina (1 a 0) de Lionel Messi, nada menos que no Maracanã.
O tricampeão mundial, Pelé, juntou-se ao coro que reivindicava o título no país árabe: "Traga o troféu para casa!", falou o ex-atacante antes da estreia.
Nos treinos em Doha, percebeu-se o espírito e a comunhão em torno da conquista do hexa. A "garotada" e os jogadores mais experientes desmancharam-se em abraços e gargalhadas perante os olhos dos jornalistas.
O troféu da Copa do Mundo foi a imagem preferida no papel de parede de alguns celulares, inclusive Ney. A decoração do local de treinamento lembrava as conquistas de Pelé (1958, 1962, 1970), Romário (1994) ou Ronaldo (2002).
"Carregamos esse peso como todos os brasileiros", disse o lateral Raphinha antes da estreia. "Desde 2006 todo mundo quer que o Brasil ganhe a sexta estrela."
Mas a nomeação agora foi adiada para 2026, quando Estados Unidos, México e Canadá sediarão o torneio.
A essa altura, pelo menos no papel, os jogadores Thiago Silva (38 anos) e Dani Alves (39) não estarão mais por lá, e a sombra paira sobre Neymar, que em outubro passado garantiu que o Qatar seria seu último Mundial.
"Não sei se tenho força mental para continuar jogando futebol", disse ele em um documentário.
Ney ainda pode mudar de ideia, especialmente porque ele tem apenas 30 anos e tem um longo contrato com o Paris Saint-Germain. Mas o fracasso nas três Copas pode acabar prevalecendo: humilhado em 2014, decepcionado em 2018 e surpreendido em 2022.
O craque corre o risco de encerrar a carreira com apenas as conquistas da Copa das Confederações (2013) e do ouro olímpico (2016) em seu recorde internacional, desde que se machucou em 2019, quando o Brasil de Tite conquistou a Copa América.
O SANGUE FRESCO
A relação com a Canarinha (77 gols em 124 jogos) foi alterada pelas inúmeras lesões e polêmicas dentro e fora de campo, que dificultavam a aproximação de muitos brasileiros à sua figura.
A curto prazo, se continuar na seleção, tem o bálsamo de ter igualado Pelé (77 gols) e poder superá-lo como artilheiro da história do Brasil.
Mas o saldo negativo não oscila apenas para o lado do camisa 10. Ele também aponta para o técnico Tite, de 61 anos, que anunciou antes do torneio que deixaria o cargo após a Copa do Mundo.
"Sei que o futebol é feito de ciclos e tive uma oportunidade única de me encontrar nessa posição", disse o técnico há alguns meses, no comando desde junho de 2016 após a demissão de Dunga.
Adenor Leonardo Bachi, apelidado de Tite, soube endireitar a seleção, que classificou com facilidade por dois Mundiais consecutivos e levou ao título sul-americano em 2019.
Mas o treinador foi regularmente criticado por seu jogo, às vezes considerado defensivo, por um torcedor cujo paladar ainda saboreia o futebol deslumbrante de lendas como Pelé, Ronaldo e Ronaldinho.
Com sua reserva inesgotável de talentos, como os jovens Vinicius Jr, Rodrygo, Antony ou Gabriel Martinelli, os pentacampeões poderão se reinventar, independentemente do novo técnico.
A pressão para voltar a vencer, porém, será mais sufocante.
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