O jogador de futebol Alcir Portella deixou a quadra do Cacique de Ramos, achou um orelhão (você lembra a época em que existia telefone público, utilizado mediante a inserção de fichas?) que por sorte estava funcionando e ligou para Beth Carvalho: "Tudo bem, comadre? Queria que você desse um pulo aqui na rua Uranos para conhecer um negócio. Ninguém vai pedir para você cantar nada. Tem uma comida de que você vai gostar. Vamos jogar um buraco...".
Alcir queria que Beth conferisse uma reunião informal, sempre às quartas-feiras, uma pelada entre amigos, uma galinhada com cerveja e depois uma roda de samba intimista, com o pessoal tocando banjo, tantã e repique de mão, cantando e improvisando versos debaixo de uma enorme tamarineira.
Ali nasceu, em meados dos anos 1970, o que mais tarde o mercado fonográfico batizaria de "pagode carioca", tendo à frente o grupo Fundo de Quintal e os compositores e cantores Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Jorge Aragão, Almir Guineto, Luiz Carlos da Vila, Jovelina Pérola Negra. Mas era muito mais do que isso, verdadeira revolução no gênero, semelhante ao que fizeram os bambas do Estácio na década de 1920, formatando o samba da maneira como o conhecemos até hoje.
O historiador e sambista Nei Lopes afirma: "O movimento que surgiu no Cacique de Ramos tem o mesmo peso da revolução da bossa nova. E vai além, porque inovou reverenciando a tradição, trazendo para os holofotes a arte e a inteligência do partido alto".
Beth não saiu mais do Cacique, a ponto de Bira, o presidente do clube e do bloco de embalo, sugerir a construção na quadra de um banheiro feminino, que se chamaria Beth Carvalho. A cantora, educadamente, recusou a homenagem. Mas levou aquela vitalidade sonora para seu disco de 1978, "De Pé no Chão", cuja história acaba de ser contada em um livro recém-lançado do jornalista Leonardo Bruno.
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