terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Ricardo Viveiros - A anistia que não deve ser, FSP

 Ricardo Viveiros

Jornalista, professor e escritor, é doutor em educação, arte e história da cultura; autor, entre outros, de “A Vila que Descobriu o Brasil” (Geração), “Justiça Seja Feita” (Sesi-SP) e “Memórias de um Tempo Obscuro” (Contexto)

Existe a proposta de anistiar aqueles que, em 8 de janeiro de 2023, vandalizaram os prédios dos três Poderes em Brasília. Tal movimento em busca de perdão para terroristas é não apenas equivocado, mas um verdadeiro atentado ao Estado democrático de Direito.

Constituição Federal, no artigo 5º, inciso XLIII, é clara: "[…] a prática do terrorismo não é passível de anistia.". Essa premissa deve ser defendida com tenacidade, pois a anistia que se articula pode abrir perigoso precedente. Além do que, no "passar o pano", está a intenção de beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), indiciado e inelegível.

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Vândalos invadem o Palácio do Planalto no 8 de janeiro de 2023 - Gabriela Biló/Folhapress

Em uma democracia, a legitimidade do poder emana do respeito às instituições e à ordem constitucional. Ao conceder perdão a baderneiros, que atacaram símbolos da nossa república, corre-se o risco de legitimar uma cultura de impunidade. A ideia de que ações violentas de golpistas podem ser relevadas afronta àqueles que lutam pela democracia. Seria um incentivo ao desrespeito às instituições, no qual a desestabilização se torna estratégia viável para aqueles que não aceitam o legítimo resultado das urnas.

A polarização política que permeia nosso país é evidente e danosa. Entretanto, o diálogo e a negociação são sempre preferíveis à violência. A anistia a atos terroristas não apenas deslegitimaria os esforços de pacificação e reconciliação, mas também incentivaria a ocorrência de novos episódios de vandalismo e desrespeito à Constituição. Afinal, se os autores de ações criminosas se sentirem seguros de que não haverá consequências, o ciclo de violência poderá gerar novos eventos, como o recente ataque com bombas ao STF.

O que se espera de um Estado democrático é a proteção de suas instituições, e isso passa pela responsabilização de quem comete crimes. A anistia, portanto, não representa um gesto de paz, mas sim uma capitulação diante de atos ao arrepio da lei. Não podemos nos esquecer de que o uso da força para derrubar a ordem estabelecida deve ser tratado com rigor —e a impunidade não pode ser a resposta.

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É importante criar um ambiente em que as divergências sejam resolvidas por meio do diálogo e da política e não pela destruição do patrimônio público em nítido recado de repúdio à democracia. Alguns argumentam que a anistia é um caminho para a reconciliação. No entanto, essa abordagem ignora a gravidade dos atos cometidos e o impacto que tiveram sobre a sociedade. A reconciliação verdadeira se baseia no reconhecimento dos erros, na busca pela justiça e na reparação das vítimas. O castigo pune, o arrependimento educa.

A sociedade brasileira precisa ser capaz de distinguir o legítimo exercício da liberdade de opinião do ódio manifestado em nome dela. A anistia a terroristas não é apenas uma questão legal; é uma questão moral. Devemos nos lembrar das lições do passado e dos riscos que corremos ao minimizar a gravidade de atos irresponsáveis.

O momento é de reafirmar nosso compromisso com a democracia e com a justiça, não apenas em palavras, mas em ações. O respeito às instituições e à lei deve ser inegociável. A anistia não é a resposta; a responsabilidade, sim. Vamos construir um futuro em que a violência não seja a solução, mas, sim e em especial, o respeito mútuo e a efetiva busca pelo desenvolvimento sob o princípio da paz.

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