Ainda não sei o que é mais assustador: a defesa de tortura, de estupro e do massacre de 1.200 pessoas, em Israel, ou a superficialidade, a indigência intelectual e a escrita rudimentar do manifesto que levou estudantes da USP a enfrentar processo disciplinar, que pode expulsá-los. O informe que originou as denúncias parece uma redação de quinta série —com todo o respeito aos alunos dessa faixa etária.
Qualquer aplicativo de inteligência artificial teria se saído melhor e os alertado para o problema de se defender terroristas abertamente —ainda que isso esteja cada vez mais na moda. Infelizmente, IA é politicamente correta e apontaria o absurdo de tratar o 7 de outubro de 2023 como "ofensiva histórica". O texto é uma confusão danada, sem contextualizações históricas e com pitadas de discurso de ódio e de antissemitismo, em tom denunciatório. Apesar da gravidade, é tão ruim e ingênuo que fica difícil não rir do resultado.
Talvez seja demais esperar que um manifesto escrito por estudantes da melhor universidade da América Latina tivesse coerência e equilíbrio, por mais crítico que fosse a Israel, sem que pregasse pelo fim de sua existência. Algum "progressista" consegue produzir um texto em defesa de um Estado da Palestina sem recorrer ao bingo antissemita? Colonialista: bingo. Imperialista: bingo. Genocídio: bingo. Estadunidense: bingo. Sionista: bingo.
A academia é o espaço para que a divergência de ideias floresça sem que extrapole direitos individuais e universais. Sem que alimente divisões, intolerância e racismo, explícitos no tal documento. Não deixa de ser curioso que a liberdade de expressão reivindicada neste caso seja a mesma contestada quando vozes dissonantes são censuradas, como no caso de cancelamento de palestras e de participações em debates de personalidades que não estão no mesmo ponto do espectro político. Quem sabe o episódio sirva de lição, o que eu duvido.
Acredito que os professores da USP, que organizam abaixo-assinado para salvar os alunos da expulsão por antissemitismo, tenham êxito. Resta saber se os salvarão da escassez de conhecimento, da superficialidade de ideias, da limitação cognitiva.
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