quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Precisamos normalizar a ceia de Natal solitária, Marcos Nogueira ,FSP

 Uma das tradições natalinas mais curiosas do mundo está no Japão.

Lá, a comida festiva são os baldes de frango frito da rede KFC. Começou como uma sacada de marketing magistral de Takeshi Okawara, o homem que levou coronel Sanders para as ilhas nipônicas, nos anos 1970.

Hoje, as vendas de dezembro representam 1/3 do faturamento do KFC no Japão —e o dia 24 é o mais movimentado de todos.

Os japoneses compram frango frito para passar o Natal com a família, mas também sozinhos, em casal, com amigos.

Apenas 1% da população do Japão é cristã, então a data é mais ou menos como o Halloween para os brasileiros: muita gente comemora como acha que deve comemorar, mas também tem uma multidão que está pouco se lixando.

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O Natal japonês é um contraponto à opressão da alegria compulsória que se instala no Brasil no fim do ano.

Precisamos confraternizar com todos, até com os colegas de trabalho mais detestados. Precisamos, sobretudo, ter uma família modelar para a noite da ceia –mesmo que a casa da tia Clotilde seja um ninho de cascavéis.

A musiquinha do supermercado, a onipresença dos panetones, a decoração piscante dos prédios, tudo te diz que o Natal precisa ser muito especial. E que, se não for, algo está errado com você.

Essa pressão resulta na sobrecarga das linhas do CVV. Não deveria ser assim.

Para quem não tem essa família ou quer distância dela, meus votos natalinos são: tudo bem passar a noite como outra qualquer. Tudo bem dormir, fazer sexo, jogar videogame, comer pizza requentada da noite anterior.

Tudo bem passar o Natal sozinho em casa. Ao contrário do que querem que você acredite, é só mais um dia dos 365 –ou 366, como neste ano.

Para homenagear os japoneses com um cardápio natalino mundano, fique com uma receita de frango frito e uma saladinha de inspiração nipônica. Não é exatamente um karaage (técnica tradicional de fritura do Japão), mas não resisti ao trocadilho.

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