A popularidade de Lula atravessou com alguma estabilidade mais um ano de um mandato que se dá num cenário bem diferente de seus governos anteriores. Pelo mundo, democracias enfrentam uma onda de desânimo com seus líderes, e a cristalização de posições políticas torna raras as grandes mudanças de opinião em relação a governos.
A nova pesquisa do Datafolha mostra que o petista sustenta uma certa solidez. Num quadro parecido com o final do ano passado, Lula tem a aprovação de cerca de um terço do país e a reprovação de outro terço. O restante diz que a gestão é regular. Ninguém no Planalto pode ficar confortável com o resultado.
Lula tem dois problemas principais. O primeiro é reconhecido de forma dissimulada pelo presidente: as ações do governo têm pouco ou nenhum efeito sobre sua popularidade. O petista acreditou que a recomposição de programas sociais e o impulso da máquina pública sobre a economia seriam suficientes para mexer alguns ponteiros, mas a variação foi quase nula entre eleitores de baixa renda e no público-alvo de benefícios como o Pé-de-Meia.
O presidente passou o ano repetindo que 2024 seria o "ano da colheita", em que decisões tomadas no primeiro ano de governo dariam resultados e, consequentemente, melhorariam sua avaliação. No último domingo (15), ele empurrou a previsão para 2025.
Na virada do calendário está a outra complicação. Lula vai praticamente sem gordura de popularidade para a frigideira que será a segunda metade do mandato.
A reticência sobre os feitos do governo se soma a um ambiente econômico que pressiona os preços (fator número um de insatisfação popular) e ainda restringe os gastos disponíveis para ações de grande impacto. O presidente pode se sentir tentado a testar essas restrições e fazer uma aposta gorda num bônus de popularidade, ao custo de uma turbulência que tende a ser violenta.
O que oferece alívio a Lula é o fato de que não há adversário claramente posicionado, a esta altura, para bater o governo em 2026. A empolgação com a gestão petista, limitada até aqui, será determinante para orientar a movimentação de desafiantes e eleitores nos próximos dois anos.
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