domingo, 8 de dezembro de 2024

O Brasil é ruim demais da conta, Marcelo Leite, FSP

 Todos sabem que estudantes brasileiros vão muito mal em matemática nas provas do Pisa. Não é culpa deles, mas do ensino. Já congressistas, juízes, promotores, servidores de alto escalão, colunistas de economia e empresários ricos não têm desculpa para o desprezo que devotam à aritmética e à lógica.


A emergência climática, maior problema do mundo, não merecia ser objeto de enganação oficial nas metas para descarbonizar a atmosfera. O governo promete zerar até 2050 emissões nacionais de CO2 e outros gases do efeito estufa, mas trabalha para seguir poluindo o planeta.

Nossa maior fonte de carbono está na agropecuária, com três quartos do total de emissões. Não só desmatando biomas por corte raso (cerrado e amazônia acima de tudo), mas também com queimadas para pasto e metano da digestão do gado ruminante, num país com mais bois que gente.

Queimada em uma área desmatada dentro da Estação Ecológica Soldado da Borracha, em Rondônia.

Sim, o desmatamento caiu, mas só na floresta amazônica. No cerrado sobe, assim como as queimadas em ambos. Sim, o Pará sediará a COP30 em Belém, mas o governador Helder Barbalho (MDB) vê seu estado aumentar incêndios ao mesmo tempo em que apregoa venda de créditos duvidosos de carbono.

A conta não fecha. Empulhação similar encena a Petrobras com a conversa de mobilizar renda do petróleo para financiar a transição energética –isso, usar gasolina para apagar a fornalha do aquecimento global.

Só numa opinião pública avessa à coerência se aceita que um diretor de Transição Energética e Sustentabilidade da estatal de energia fóssil –Mauricio Tolmasquim– defenda ser um dos exportadores remanescentes de combustíveis fósseis em 2050. Não era esse o prazo para zerar emissões?

Tudo somado e subtraído, a concentração de CO2 na atmosfera continuará a subir enquanto se queimar petróleo. Simples assim. Produtores e consumidores de fósseis não vivem em planetas separados, e as tecnologias para captura e armazenamento de carbono ainda são ficção economicamente inviável.

Como entram nessa história mal contada os congressistas, juízes, promotores, servidores de alto escalão, colunistas de economia e empresários ricos do primeiro parágrafo?

Alguns são latifundiários e pelejam para reverter leis ambientais ou meter jabutis na legislação de energia, verdade. Por outro lado, tratam os números do ajuste fiscal como animais nas fazendas de seus avós, espancando-os sem dó.

Enchem a boca para ruminar cortes de gastos, desde que não na própria carne, só na dos beneficiários de programas sociais. Absurdo isentar do imposto de renda quem ganha até R$ 5.000, bem agora, e já se movimentam para tirar do cálculo compensatório a tributação para quem fatura mais de R$ 50 mil (eles próprios).

Impedir a farra das indenizações que catapultam seus vencimentos muito além do teto governamental? Nem pensar, reagem magistrados, promotores, procuradores e defensores públicos alérgicos à justiça distributiva.

Revogar o privilégio de 17 setores da economia (imprensa incluída) que tiveram desoneradas as folhas de pagamento? Fora de questão. Argumentam, sem corar, que haverá demissões, ao mesmo tempo em que deploram pressões inflacionárias do desemprego em queda recorde.

O Brasil é ruim demais. Com as contas, com a Terra e com sua gente.

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