O futuro do PT está em discussão dentro e fora do partido. Os magros resultados das eleições municipais e a incerteza quanto a uma nova candidatura de Lula em 2026 imprimem sentido de urgência ao debate sobre os rumos da agremiação que é o centro de gravidade das esquerdas no país. As questões a enfrentar não são simples.
A primeira delas é que o partido sempre foi menor que seu líder. Raízes nos sindicatos e nos movimentos sociais nunca lhe deram maioria eleitoral. Permanece, inabalável, a distância entre os votos obtidos pela legenda para cargos subnacionais, assim como nas disputas para o Congresso, e aqueles mobilizados por Lula, quando perdeu e ganhou contendas presidenciais, em nome próprio ou ao fazer sua sucessora.
No seu melhor momento, o PT ocupou pouco mais de 20% das cadeiras da Câmara; somado a seus aliados de esquerda, chegou a 1/3 dos deputados. Dito de outro modo, Lula construiu uma liderança popular que ultrapassou de longe as fronteiras das esquerdas. Essa liderança resulta de uma trajetória política única e exemplar e, nessa medida, difícil de reproduzir. Uma liderança que, por ser potente nas urnas, conseguiu agregar as esquerdas em torno sua legenda e formar coligações a sua direita.
O PT sem Lula no comando terá de lidar com seu tamanho real –minoria que encolheu nos últimos anos–, repensar as formas de agregar as esquerdas e, sobretudo, construir pontes firmes no campo mais vasto do centro e de uma parcela da direita.
Aí reside o segundo problema: o partido carece de propostas capazes de aglutinar forças políticas centristas e falar à massa dos brasileiros pobres e remediados. Na oposição, nos governos locais e depois no plano federal, o PT foi fundamental para fazer avançar a agenda reformadora que implementou —e levou ao limite ditado pelo Orçamento, aquilo que o economista Samuel Pessoa chamou de pacto social da Constituição de 1988. Tratou-se de transformar o sistema de proteção social universalizando a educação e a atenção básica na saúde; reestruturando a assistência social tradicional; construindo um gigantesco programa de transferência de renda; levando luz elétrica ali aonde não havia chegado; forjando as estruturas legais e burocráticas das políticas ambientais; garantindo aos povos indígenas o direito às suas terras e formas de vida; tornando as elites menos homogeneamente brancas por meio de ações afirmativas.
Em alguns casos, os governos da coalizão petista aprofundaram políticas iniciadas antes; em outros, inovaram. Hoje são praticamente aceitas por políticos de todos os quadrantes, não mais se prestando a distinguir as esquerdas e mobilizar o eleitorado. Quem as iniciou deixou de importar.
Assim, ao PT não basta falar —com justificado orgulho— de um passado que ajudou a construir. Precisa encontrar uma nova agenda social, fiscalmente viável e apta a responder às demandas por qualidade na saúde e na educação; por segurança pública; por proteção ao trabalho para quem está à margem da CLT —e que trate o problema ambiental como questão de justiça. Em suma, trata-se de edificar um novo progressismo e encontrar todos quantos possam traduzi-lo para a massa dos eleitores.
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