sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Arquitetura com elementos naturais estimula cérebro e gera bem-estar, FSP

Fulvio Alexandre Scorza

Professor do Departamento de Neurologia e Neurocirurgia da Escola Paulista de Medicina da UNIFESP. Consultor Científico de A Beneficência Portuguesa de São Paulo. Coordenador científico do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar

Cintia Attis

Gerência executiva de Engenharia, Obras e Manutenção da Associação A Beneficência Portuguesa de São Paulo

No início do século 20, o médico e histologista espanhol Santiago Ramon y Cajal (prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina em 1906) avaliou a anatomia microscópica do cérebro e concluiu: em adultos, as vias neuronais são fixas e imutáveis. Todas as células devem morrer, e não haverá regeneração.

Porém a ciência conseguiu mudar esse paradigma.

cérebro humano tem, em média, 86 bilhões de neurônios. Hoje, sabemos que, além de ser extremamente eficiente, o órgão está em constante transformação, sendo capaz de se reestruturar e se adaptar ao longo da vida.

Essa neuroplasticidade —capacidade do cérebro adulto em alterar sua anatomia em resposta a estímulos externos e internos— permite que neurônios se reorganizem e produzam novas células (neurogênese).

A imagem mostra um terraço com uma mesa grande e cadeiras, cercado por plantas e flores. No fundo, há uma vista da cidade com prédios altos. O céu está nublado, e há uma estrutura metálica com vegetação pendurada. Dois sofás pretos estão posicionados em um canto do terraço.
Projeto de paisagismo em Perdizes, São Paulo (SP) - Mathilde Missioneiro/Folhapress

Diversos estímulos do ambiente influenciam positivamente a formação de novos neurônios no cérebro adulto, como atividade física (120 a 150 minutos de exercício de intensidade moderada por semana) e alimentação (ômega-3, própolis, resveratrol, curcumina, mirtilo, entre outros).

Outros fatores são aprendizagem (atividades de escrita e leitura) e ambiente enriquecido (estímulos físicos, sociais ou cognitivos que propiciam condições de bem-estar).

Estudos recentes demonstram que a exposição a um ambiente rico em estímulos aumenta a formação de novos neurônios, atuando como uma possível abordagem não farmacológica na prevenção e/ou progressão de doenças cerebrais.

Ao analisar tais evidências, surge uma indagação: será que projetos de arquitetura podem afetar positivamente a saúde das pessoas?

Pesquisas atuais apontam a existência de interações entre cérebro humano e ambiente construído. Nesse sentido, a arquitetura biofílica ("bio" significa vida, e "philia", amor) tem ocupado lugar de destaque no presente cenário.

Esse tipo de arquitetura foi contextualizado a partir da tendência inata do ser humano de buscar conexões com a natureza para promover saúde e bem-estar nos espaços que habita.

De fato, um projeto de construção saudável estimula o cérebro e modula positivamente nosso comportamento, pois cria um ambiente adequado e agradável capaz de melhorar a qualidade de vida.

Vale salientar que os efeitos desse tipo de arquitetura não dependem exclusivamente das características físicas do espaço mas também de como o ambiente construído afeta os indivíduos. Entram nessa conta tempo e frequência de uso dos locais, cultura, experiências de vida de cada pessoa e ambiente social.

De maneira geral, essas ações inovadoras da arquitetura têm sido baseadas em estudos científicos prévios. Na última década, evidenciou-se que o contato com a natureza está diretamente associado ao equilíbrio da saúde física, mental e social, pilares essenciais do bem-estar humano.

Por exemplo, nosso grupo de pesquisa demonstrou que o contato ou a proximidade a áreas verdes podem trazer benefícios à saúde de pessoas com epilepsia.

Nesse sentido, outros pesquisadores têm demonstrado resultados semelhantes com relação às doenças de Alzheimer e Parkinson, ansiedade, depressão, diabetes, doenças cardiovasculares, obesidade e câncer.

Os resultados de um relatório que avaliou o impacto da biofilia nos locais de trabalho demonstraram que pessoas que exerciam suas tarefas em ambientes com elementos naturais (como vegetação e luz solar) apresentavam melhores índices de bem-estar (15%), produtividade (6%) e criatividade (15%), quando comparadas com indivíduos que trabalhavam em ambientes convencionais.

Em ambientes hospitalares, a arquitetura biofílica tem se revelado uma importante ferramenta nos processos de cura dos pacientes.

Nosso cérebro agradece se projetos de arquitetura forem planejados de forma sustentável e com elementos que promovam uma relação eficaz com a natureza. Isso inclui a presença de água, áreas verdes visíveis ou acessíveis, luz natural, além de condições ideais de umidade, ruído, temperatura e ventilação.

 

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