No início do século 20, o médico e histologista espanhol Santiago Ramon y Cajal (prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina em 1906) avaliou a anatomia microscópica do cérebro e concluiu: em adultos, as vias neuronais são fixas e imutáveis. Todas as células devem morrer, e não haverá regeneração.
Porém a ciência conseguiu mudar esse paradigma.
O cérebro humano tem, em média, 86 bilhões de neurônios. Hoje, sabemos que, além de ser extremamente eficiente, o órgão está em constante transformação, sendo capaz de se reestruturar e se adaptar ao longo da vida.
Essa neuroplasticidade —capacidade do cérebro adulto em alterar sua anatomia em resposta a estímulos externos e internos— permite que neurônios se reorganizem e produzam novas células (neurogênese).
Diversos estímulos do ambiente influenciam positivamente a formação de novos neurônios no cérebro adulto, como atividade física (120 a 150 minutos de exercício de intensidade moderada por semana) e alimentação (ômega-3, própolis, resveratrol, curcumina, mirtilo, entre outros).
Outros fatores são aprendizagem (atividades de escrita e leitura) e ambiente enriquecido (estímulos físicos, sociais ou cognitivos que propiciam condições de bem-estar).
Estudos recentes demonstram que a exposição a um ambiente rico em estímulos aumenta a formação de novos neurônios, atuando como uma possível abordagem não farmacológica na prevenção e/ou progressão de doenças cerebrais.
Ao analisar tais evidências, surge uma indagação: será que projetos de arquitetura podem afetar positivamente a saúde das pessoas?
Pesquisas atuais apontam a existência de interações entre cérebro humano e ambiente construído. Nesse sentido, a arquitetura biofílica ("bio" significa vida, e "philia", amor) tem ocupado lugar de destaque no presente cenário.
Esse tipo de arquitetura foi contextualizado a partir da tendência inata do ser humano de buscar conexões com a natureza para promover saúde e bem-estar nos espaços que habita.
De fato, um projeto de construção saudável estimula o cérebro e modula positivamente nosso comportamento, pois cria um ambiente adequado e agradável capaz de melhorar a qualidade de vida.
Vale salientar que os efeitos desse tipo de arquitetura não dependem exclusivamente das características físicas do espaço mas também de como o ambiente construído afeta os indivíduos. Entram nessa conta tempo e frequência de uso dos locais, cultura, experiências de vida de cada pessoa e ambiente social.
De maneira geral, essas ações inovadoras da arquitetura têm sido baseadas em estudos científicos prévios. Na última década, evidenciou-se que o contato com a natureza está diretamente associado ao equilíbrio da saúde física, mental e social, pilares essenciais do bem-estar humano.
Por exemplo, nosso grupo de pesquisa demonstrou que o contato ou a proximidade a áreas verdes podem trazer benefícios à saúde de pessoas com epilepsia.
Nesse sentido, outros pesquisadores têm demonstrado resultados semelhantes com relação às doenças de Alzheimer e Parkinson, ansiedade, depressão, diabetes, doenças cardiovasculares, obesidade e câncer.
Os resultados de um relatório que avaliou o impacto da biofilia nos locais de trabalho demonstraram que pessoas que exerciam suas tarefas em ambientes com elementos naturais (como vegetação e luz solar) apresentavam melhores índices de bem-estar (15%), produtividade (6%) e criatividade (15%), quando comparadas com indivíduos que trabalhavam em ambientes convencionais.
Em ambientes hospitalares, a arquitetura biofílica tem se revelado uma importante ferramenta nos processos de cura dos pacientes.
Nosso cérebro agradece se projetos de arquitetura forem planejados de forma sustentável e com elementos que promovam uma relação eficaz com a natureza. Isso inclui a presença de água, áreas verdes visíveis ou acessíveis, luz natural, além de condições ideais de umidade, ruído, temperatura e ventilação.
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