Henri Bergson não é hoje um nome que se escuta com muita frequência fora dos círculos filosóficos, mas, nos anos 1910, ele era uma celebridade, do tipo Taylor Swift mesmo. Quem quisesse um bom lugar para assistir às suas aulas no Collège de France tinha de chegar com várias horas de antecedência.
O sucesso não estava limitado à França. Bergson também atraía grandes públicos na Inglaterra e nos EUA. Ele foi a causa do primeiro congestionamento de veículos registrado na Broadway em Nova York, em 1913.
"Herald of a Restless World" (arauto de um mundo agitado), de Emily Herring, conta a história de Bergson e tenta explicar seu surpreendente sucesso e posterior declínio.
O filósofo, que era também um excelente orador, criou conceitos como os de "durée" (duração, o tempo como percebido pela consciência) e "élan vital" (princípio explicativo da evolução, também ligado à consciência), que eram suficientemente vagos para comportar múltiplas interpretações. Cada um via neles mais ou menos aquilo que queria.
O filósofo, que era percebido como revolucionário, ainda abordava temas pop, como o livre-arbítrio, a memória e o humor. Bergson não era propriamente um antirracionalista, mas apontava limites para a ciência, o que, aliás, lhe valeu controvérsias com Russell e Einstein.
Tais características eram particularmente atraentes para o mundo do final da Belle Époque. Mas, a partir de 1918, um conflito mundial e uma pandemia depois, o Zeitgeist mudara. Bergson nunca mais causaria o mesmo frenesi.
Ele continuou produzindo. E foi também "se institucionalizando". Galgou postos na rígida carreira acadêmica francesa. Tornou-se membro da Academia de Letras. Em 1927, ganhou o Nobel de literatura. Ficou cada vez mais difícil vê-lo como disruptivo.
Algumas das ideias de Bergson permanecem interessantes, mas hoje ninguém mais o coloca no panteão ao lado de Platão, Aristóteles e Kant.
Mudanças bruscas no Zeitgeist, como a que feriu Bergson, talvez expliquem algumas características do mundo de hoje.
PS – Dou uma semana de folga ao leitor.
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