O mercado quer derrubar Lula? A grande dificuldade na pergunta é conceituar esse tal de mercado. Trata-se de uma categoria vasta, que, além dos caricaturais "faria limers", inclui desde fundos de pensão de trabalhadores até grandes investidores, passando por aposentados que tentam preservar o valor de seus parcos recursos e empresas gerindo seu capital de giro.
São grupos bastante heterogêneos que divergem em seus objetivos e competências para navegar entre as possibilidades de investimento, além das influências políticas e ideológicas a que se submetem.
Basta lembrar que, sob Dilma, fundos de pensão de estatais amargaram enormes prejuízos por colocar seu dinheiro em investimentos duvidosos que incluíram papéis venezuelanos e argentinos —um erro que os maiores investidores privados não cometeram. É que eles fizeram coisas ainda piores.
A megacrise de 2008-9, por exemplo, se materializou porque grandes gestores alocaram níveis fabulosos de recursos em derivativos sem nenhum lastro, o que acabou obrigando os principais bancos centrais a despejar trilhões de dólares no sistema financeiro para afastar o risco sistêmico. A maior parte desses gestores não foi responsabilizada por suas más escolhas. Muito da atual crise de confiança na democracia em países ricos tem a ver com esse episódio.
A grande diversidade dos agentes que constituem o mercado não impede que eles em algumas situações, normalmente momentos de crise, atuem de forma convergente. Na hora de decidir onde pôr seu dinheiro, ninguém para para fazer reflexões kantianas. Vale o pragmatismo. Se eu acredito que o dólar amanhã estará mais caro do que hoje, o passo lógico a dar é comprar moeda americana e exigir um prêmio maior para emprestar dinheiro ao governo.
Não querer morrer com o mico na mão me parece mais estratégia de sobrevivência do que chantagem. Vale observar que o governo não precisaria gastar um centavo com juros se restringisse suas despesas a suas receitas. Fazê-lo também afastaria o problema fiscal que alimenta a escalada do dólar.
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