sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

As Forças Armadas, o ‘risco Venezuela’ e o futuro, Por Fabio Giambiagi OESP

 


O leitor parou para pensar no que poderia ter acontecido no Brasil se alguns generais, em 2022, tivessem aderido ao ambiente da época para “impedir o País de cair nas mãos dos comunistas”? Teria sido um banho de sangue.

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Por que estou falando disso? Porque, nos próximos dias, Nicolás Maduro será empossado pela enésima vez na presidência da Venezuela. O leitor deve lembrar que, durante anos, se mencionou o risco de o Brasil “virar uma Venezuela” como associado ao PT, pelas afinidades entre o partido e o chavismo. A rigor, porém, o risco que o País correu de virar uma Venezuela se deu no governo de quem acenou com esse fantasma.

As instituições são fortes no Brasil? Mais do que em outros países. Seria difícil uma tentativa de “virada de mesa” vingar num quadro internacional com os EUA contra? Sim.

Porém, na Venezuela, a maioria da população, do empresariado, dos partidos e da intelectualidade é contra o governo, mas Maduro “não está nem aí” para essa realidade, apoiado nas Forças Armadas (FA) da Venezuela, que, ao contrário das nossas, foram compradas para aderir ao governo, deixando de lado a Constituição.

O Brasil precisa extirpar o câncer do golpismo (na foto, depredação das sedes dos três Poderes em Brasília em 8 de janeiro de 2023)
O Brasil precisa extirpar o câncer do golpismo (na foto, depredação das sedes dos três Poderes em Brasília em 8 de janeiro de 2023) Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

É por isso que a politização das FA é inaceitável. E foi isso que se tentou fazer aqui, ou seja, transformar uma instituição da República na guarda pretoriana do presidente. “De novo essa história?” Sim, porque isso delimita o campo de jogo. A esquerda nunca se recuperou da mancha da corrupção, e parte do País age como se os escândalos que marcaram os anos 2000 e 2010 não tivessem existido. Já a direita tem que parar de normalizar o absurdo, dado o que se procurou gestar em 2022. Vale lembrar que o sentido da palavra “liderança” implica liderar, ora.

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Há políticos respeitáveis, com uma história de serviços prestados e condições de assumir as bandeiras do livre mercado, do empreendedorismo e da eficiência, sem ter que se curvar para prestar continência a um golpista. O Brasil tem 40 anos de democracia, uma bela história de conquista da estabilidade e boas perspectivas se soubermos, entre as forças representativas de 80% ou 90% do eleitorado, definir regras mínimas para serem respeitadas por todos.

Felipe González dizia que “a democracia implica assumir a derrota”: quem ganha leva e quem perde aguarda a próxima. Qualquer outra coisa, é arruaça. O Brasil precisa extirpar o câncer do golpismo para não virar uma Venezuela, se um dia – como diria um kid preto – cair nas mãos da rataria.

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