domingo, 8 de julho de 2018

Sobrevivência no ar, Opinião FSP



A venda dos principais negócios da brasileira Embraer para a americana Boeing foi decisão orientada pela necessidade de sobreviver em um mercado mundial concentrado.
A principal concorrente da Embraer, a divisão de jatos médios da canadense Bombardier, foi incorporada pela Airbus. A ex-estatal passou a competir com as gigantes da fabricação de aeronaves em condições mais desfavoráveis. Sua escala menor de produção limita tentativas de redução de custos, bem como o acesso a compradores.
As negociações em curso preveem a criação de duas empresas. Uma delas produzirá jatos comerciais médios, sendo em 80% propriedade da Boeing.
Outra companhia, talvez uma associação com controle da brasileira, ficará com as linhas de aviões de defesa, jatos executivos e outros pequenos aparelhos, negócio que rende menos de 10% do lucro da companhia brasileira.
A primeira vai se valer das vantagens oferecidas pela participante dos Estados Unidos: tamanho, possibilidade de redução de encargos administrativos e operacionais devido a sinergias, tecnologia, recursos mais baratos para investir e facilidades comerciais e políticas.
No entanto é incerto como serão divididas as capacidades tecnológicas dessa empresa —engenheiros e conhecimentos que servem às várias linhas de produção da Embraer. Tampouco se sabe se a ênfase em pesquisa e desenvolvimento será mantida pelos novos proprietários, ou se a atividade será mais parecida com a de uma montadora.
Já a segunda companhia terá escala ainda menor e tende a sofrer com resultados econômicos insustentáveis. Há indícios de que terá apoio da Boeing na promoção e aperfeiçoamento de seu avião de transporte militar e de cargas. Terá a mesma ajuda no projeto do caça Gripen, que desenvolve em parceria com a sueca Saab?
O governo brasileiro, os militares em particular, preocupava-se com esse assunto —a manutenção da capacidade nacional de produzir aviões de combate e tecnologias relacionadas.
Em tese, a transação parece tranquilizadora para aqueles que se ocupam de problemas ditos estratégicos. Mas o sucesso do que restou da Embraer nacional é um ponto de interrogação.
Faltam definições, ademais, a respeito da cisão operacional e das dívidas. Apenas em 2019 haverá clareza sobre o formato das novas empresas de aviação que vão atuar no Brasil. Tais questões sem dúvida se mostram relevantes.
Entretanto é inegável que a alternativa de enfrentar sozinha o mercado mundial não mais se afigurava razoável para a Embraer.

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