Há controle sobre o tamanho das empresas? Pela produtividade dos funcionários? Como se define valor?
Essas e tantas outras perguntas foram feitas por alunos ao se depararem com um resultado que não lhes agradou: em muitos casos, milionários presidentes-executivos geram mais valor do que recebem.
Veio outra saraivada quando analisamos a ineficácia da universalização de creches em Québec, no Canadá. Mas, quando discutimos aquecimento global ou o aumento da desigualdade de renda nos EUA, não houve nenhuma pergunta —todos aceitaram sem pestanejar as evidências.
Notícias falsas (fake news) só existem por causa do viés da confirmação, a tendência de sermos muito mais propensos a aceitar sem críticas notícias que corroboram nossa visão de mundo. Somos extremamente rígidos com qualquer informação que contradiga nossa experiência —ela está errada, a fonte não é confiável, o autor é incompetente, é um agente da CIA etc. Mas aceitamos de bom grado qualquer evidência, mesmo de fonte duvidosa, se tivermos convicção sobre o assunto.
No Brasil, poucos assuntos são mais propensos ao viés da confirmação que o Bolsa Família e o déficit da Previdência. No primeiro caso, todas as avaliações do programa chegaram à mesma conclusão: é excelente, barato e não gera desincentivo ao trabalho ou estímulo à natalidade.
É uma das melhores políticas públicas da história brasileira. No caso da Previdência, o déficit é gigantesco e crescente —uma bomba-relógio. Contudo, não faltam críticos gritando que o Bolsa Família é ruim, e no país se chega ao cúmulo de associações de classe parciais, já que seus membros sairiam prejudicados, usarem erros infantis para justificar que o déficit não existiria.
Pensar é caro. É isso que mostra o consenso científico de neurociência e psicologia aplicada. Daniel Kahneman, Nobel em Economia, mostra em “Pensando Rápido e Devagar” como nosso cérebro nos engana rotineiramente. Como raciocínios complexos gastam muita energia, nossa tendência natural é aceitar informações confortáveis, mesmo que erradas ou incompletas.
Aqui vai minha recomendação: sejamos mais céticos, principalmente com informações que corroboram nossa visão de mundo.
Aqui vai uma aplicação simples. Propus uma solução para a crise de refugiados na Europa usando o Brasil como intermediário, já que nosso histórico de integração é muito melhor que o da Turquia, para quem as autoridades europeias pagaram mais de € 6 bilhões (R$ 26 bilhões) para barrar refugiados vindos de Iêmen e Síria.
Claro que o tema é espinhoso. Mas propor uma solução não é ressaltar os benefícios, mas sim detalhar os custos, inclusive estimando a probabilidade de o plano dar errado. A política pública correta é aquela na qual a sociedade encara os custos e os riscos de frente, sendo muito mais rigorosa na sua análise do que nos potenciais benefícios.
Infelizmente, o que mais vemos no Brasil é o salvador da pátria da vez prometendo mundos e fundos, sem tocar nos possíveis custos ou riscos das suas propostas. É mais importante desconfiar da informação que parece muito boa para ser verdade do que tentar afundar o argumento do outro lado do espectro político.
Fake news se espalham porque aquele exemplo que faz seu cérebro tilintar de prazer é repassado sem o devido escrutínio. O ceticismo é a única forma de nos mantermos intelectualmente honestos. Duvide, duvide sempre, mas principalmente daqueles com quem você concorda.
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