Na faculdade de direito da USP, dois professores —um de 59 anos, outro de 75— viam um grupo de alunos estender uma faixa divulgando a “Semana do Lesbianismo”.
“No meu tempo, fazíamos política”, disse o mais velho.
“Fazíamos política partidária”, respondeu o mais novo. “Mas eles também estão fazendo política. Outra política”, ponderou.
Há evidências crescentes, não apenas no Brasil, de que jovens que se interessam por política almejam influenciar o debate e até mesmo assumir cargos públicos, mas estão desistindo de fazer isso pelas vias partidárias.
Cientista política, Ilona Szabó de Carvalho contou uma dessas histórias.
Fundadora de um movimento cujo objetivo é aproximar cidadãos da política e torná-la mais participativa, no final de 2017 discutiu seriamente a possibilidade de se candidatar nestas eleições.
Não foi adiante.
Em duas colunas na Folha, relatou os motivos: os caciques partidários não abrem espaço para os novos; o sistema político funciona “como uma máquina de moer princípios, boas intenções e nervos”.
Não é impressionismo. Até regras como as que obrigam que 30% das vagas, do dinheiro e do tempo de TV sejam para candidatas mulheres são ignoradas, quando não burladas com candidaturas fantasmas.
Como Ilona, toda uma nova geração de políticos —bem formada, crítica e talentosa— atua com sucesso para arejar práticas e pensamentos.
Mas, por mais bem-sucedida que seja, seu alcance não ultrapassa o varejo.
Na ordem institucional que vigora, é da política partidária que sai quem decide as normas pelas quais o país funciona e, principalmente, como é repartido mais de R$ 1 trilhão de dinheiro público.
A partir desta sexta-feira (20), convenções vão escolher os candidatos a presidente do Brasil. Nelas, o silêncio dessa nova política será o aspecto mais gritante.
Nenhum comentário:
Postar um comentário