Se Leonel Brizola estivesse vivo, diria que o Sapo Barbudo pula por necessidade, não por boniteza. Já escrevi há muito que a estratégia de Lula é esticar a corda até o dia 17 de setembro, limite para a Justiça Eleitoral bater o martelo sobre as inelegibilidades.
Não! O objetivo não é preservar a hegemonia da centro-esquerda. O PT será sempre o centro de gravitação dos esquerdismos porque controla a máquina sindical. A escolha de Lula busca manter, isto sim, seu poder absoluto e absolutista no PT.
Ele será declarado inelegível. O contrário implicaria usar o corredor da Justiça para tirá-lo da cadeia e instalá-lo no Palácio do Planalto. Não vai acontecer. A sentença de Sergio Moro é mero truque retórico. Do ponto de vista do direito, trata-se de uma aberração. Observem que nunca debato inocência ou culpa como categorias ontológicas. Isso é coisa de sociedades totalitárias. Para o diabo as “convicções” de um juiz! Numa democracia, interessa saber se há provas ou não. No caso do apartamento de Guarujá, não há.
Mesmo assim, o réu foi condenado em segunda instância e está preso. No caso da inelegibilidade, no entanto, nem é preciso violar a ordem legal para bater o martelo. A Lei da Ficha Limpa é burra, mas é clara. Lula não será candidato.
Então por que o líder petista não troca o duvidoso pelo eficaz? Se indicasse agora o nome de seu substituto —não vejo como possa ser outro que não Fernando Haddad—, dá-se como certo, e esta também é a minha avaliação, que o ungido estaria no segundo turno. Mas o chefão petista optou pelo perigo. Vai esperar até 17 de setembro. Haverá apenas 20 dias para deixar claro ao eleitorado: “Haddad é Lula; Lula é Haddad. Vote 13”. Não sendo o ex-prefeito de São Paulo, que seja o poste.
Para Lula, mais grave do que seu partido perder a disputa pela Presidência é ele próprio perder o controle do PT. O que lhe confere existência política não é o cargo eletivo —foi derrotado três vezes antes de vencer quatro...—, mas o comando de uma legenda ainda gigantesca, com múltiplos tentáculos.
Mais vale a certeza do controle do aparelho, que é um lugar de poder, mesmo na oposição, do que a faixa no peito de um correligionário que, a depender das circunstâncias, pode sacar um De Gaulle da algibeira: “O primeiro dever de um estadista é a ingratidão”. Ou a traição.
Se Lula indicasse agora um substituto, é evidente que este assumiria o comando das articulações políticas. Seria o escolhido a negociar alianças e palanques, a dar o tom da campanha, a ajustar o discurso ideológico ao real, a matizar posições, a definir horizontes, a falar com os potentados da indústria e com os banqueiros. O grande líder de agora passaria a ser só um ex-presidente mofando na cadeia.
O chefão petista decidiu entrelaçar o destino de sua legenda —e, em certa medida, o do país— com a sua própria sorte. E isso não é novidade. Se o PT ficar fora da disputa final, restará a retórica da ilegitimidade de um pleito que excluiu o favorito.
Se a transferência de votos se operar em 20 dias, Lula se torna um protagonista da luta política como nunca antes da história “destepaiz”. Se o ungido se eleger, será o ex-presidente, por óbvio, a governar o Brasil. Da cadeia! Não restará ao eleito a licença da ingratidão.
A conversa de que o petista mantém sua candidatura para assegurar palanques regionais é bobagem. A verdade está precisamente no contrário: um candidato do PT que se tornasse viável desde já facilitaria a composição nos estados. Não fosse assim, Rui Costa, por exemplo, governador da Bahia, não se mostraria tão aflito por uma solução mais rápida.
De resto, informe-se: se Lula tivesse seguido o combinado, seu candidato seria Ciro Gomes (PDT). Era o que estava pactuado na palavra. E o mundo político estaria se engalfinhando agora pela outra vaga no segundo turno.
Ocorre que o “estadista” provou a Ciro, e não foi a primeira vez!, o valor da... ingratidão! Já escrevi nesta coluna: o PT divide com mais facilidade ministérios e propinas do que o poder. E, no PT, o poder é Lula.
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