Danilo Cersosimo, O Estado de S.Paulo
28 Julho 2018 | 03h00
O Barômetro Político Estadão-Ipsos de julho* mantém as tendências dos meses anteriores. Lula, Bolsonaro e Alckmin cultivam taxas de aprovação estáveis e constantes, ainda que para o tucano isso não se reverta – ao menos por enquanto – em intenção de votos, como demonstram as pesquisas eleitorais dos últimos meses.
No entanto, a candidatura do ex-governador de São Paulo ainda pode crescer, especialmente pelo recente acordo costurado com o Centrão, esta entidade sempre presente na política brasileira ao menos desde a redemocratização do País, como também pela musculatura partidária que o PSDB já detinha e que agora fica mais forte. Não se trata apenas de tempo de televisão.
Em contrapartida, Lula e Bolsonaro não parecem ter mais para onde crescer. Suas taxas de aprovação constantes indicam uma base eleitoral consistente, mas a situação insólita do ex-presidente da República e a aparente fragilidade da campanha de Bolsonaro sinalizam um ponto de saturação. O derretimento da candidatura deste último vai depender muito do desempenho de Geraldo Alckmin de agora em diante.
Até aqui, o candidato tucano apresentou indicadores de aprovação de imagem constantes desde pelo menos dezembro de 2017. Porém, seu desempenho nesse quesito sempre esteve abaixo ao de Jair Bolsonaro que, ao contrário de Alckmin, vem conseguindo traduzir essa aprovação em intenção de votos, conforme demonstram as pesquisas divulgadas nos últimos meses.
Ao analisarmos os indicadores de desaprovação, nota-se que Alckmin continuamente apresentou desempenho pior em relação a Bolsonaro. A diferença entre ambos sempre oscilou entre 7% e 12% ao longo da série histórica.
O Barômetro Político Estadão-Ipsos de julho também mostra que o melhor índice de aprovação do ex-governador de São Paulo se dá na região Sudeste, com 26%. Bolsonaro apresenta melhor desempenho no Sul, com 31%. Para efeitos de comparação, Lula obteve 69% de aprovação na classe DE (Bolsonaro tem 10%) e 62% de aprovação no Nordeste, seu melhor desempenho nesta região desde o fim do ano passado.
Mas, afinal, o que quer o eleitor?
Sob o ponto de vista de agenda, o brasileiro anseia por um candidato capaz de combater a corrupção (55%) e gerar mais empregos (43%). Esta segunda demanda é muito mais concentrada nas esferas carentes da população, onde Lula navega muitíssimo bem enquanto seus opositores patinam.
Há uma divisão entre aqueles que desejam um candidato de um partido novo (44%) e os que anseiam por alguém de um partido tradicional (48%), resultados muito similares aos de dezembro do ano passado.
Em um cenário com forte sentimento antissistema, nem sempre o que é realmente novo aflora. O ecossistema político do Brasil não é moldado para se renovar, de modo que as opções tradicionais ainda devem prevalecer nessas eleições, tanto para o Executivo quanto para o Legislativo.
O fato de 50% dos brasileiros preferirem que o próximo presidente seja alguém que é político há muitos anos também confirma a tendência de um cenário menos propício a novidades. Essa preferência era de 39% em dezembro de 2017. Naquela ocasião, 52% da população desejava que o próximo presidente fosse algum nome novo na política. Bastaram poucos meses para que o desejo de renovação esmaecesse entre a opinião pública. A demanda era por novidade, mas a oferta não se concretizou.
Assim, ao contrário do que se supunha há dois anos, este pode ser um cenário muito positivo para partidos tradicionais como PT e PSDB, que protagonizam os grandes embates eleitorais desde 1994. Restará saber se seus candidatos terão forças suficientes para construir uma narrativa que os leve ao segundo turno. Ciro Gomes, Marina Silva e, principalmente, Jair Bolsonaro ainda podem quebrar essa tradição.
*Pesquisa realizada entre os dias 1.º e 15 de julho de 2018, através de uma amostra nacional representativa de 1.200 entrevistas domiciliares conduzidas por meio de questionário estruturado.
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