A pauta eleitoral costuma passar longe de um tema que olhos, garganta e pulmões não conseguem ignorar: a poluição do ar.
No período de maio a setembro, a estiagem e a falta de ventos prejudicam a dispersão de poluentes, agravada pela preferência nacional pelo transporte individual, pela lenta ampliação de metrôs e BRTs, e pela falta de ciclofaixas e ônibus “limpos”.
O resultado é uma névoa cinzenta que torna o pôr do sol um espetáculo laranja tão intenso quanto a sinfonia de tosses que o acompanham.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, a poluição atmosférica está associada a 25% das mortes por câncer de pulmão, 16% dos casos de infarto e 17% dos óbitos por infecções respiratórias agudas, que castigam especialmente crianças e idosos. No Brasil, ela mata 50 mil pessoas por ano, de acordo com a OMS.
Na semana passada, das 50 estações de monitoramento do ar no estado de São Paulo com dados validados pela Cetesb, 68% registraram quantidades de partículas inaláveis (chamadas MP10) acima do limite máximo apontado pela OMS.
Quase 1/5 delas atingiu índices que, na França, gerariam medidas emergenciais para evitar danos à saúde, como restrição da circulação de caminhões e de 50% dos carros, velocidades baixas e metrô grátis.
Por que será que, em São Paulo, não aconteceu nada disso?
Por que será que, em São Paulo, não aconteceu nada disso?
A resposta está nos parâmetros de poluição considerados altos o suficiente para ativarem protocolos de emergência. Na França, a sirene é ligada quando marcadores ultrapassam 80 microgramas de MP10/m³. No Brasil, isso só ocorre na casa dos 420.
Estabelecido em 1990, nosso parâmetro é mais de cinco vezes aquele adotado na França. É tão alto que raramente foi atingido no mundo.
Considerado leniente, com ele, o Brasil nunca está em alerta e, portanto, não se preocupa com efeitos da poluição na saúde da população.
O que ninguém explicou até hoje é por que os brasileiros podem ser considerados cinco vezes mais resistentes à poluição do que os franceses.
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