União Europeia assume importante papel de liderança ao enfrentar monopólio da empresa
Aconteceu comigo, na semana passada. Era só uma conversa rápida, ao vivo, sobre o mercado de violões usados. Encostado num canto da sala, fora de uso, estava meu celular, que roda sistema Android. Pouco depois, comecei a navegar pelo Facebook, que incrivelmente passou a mostrar anúncios de... violões usados.
Aconteceu com o Google, nesta semana. A União Europeia aplicou à empresa a maior multa da história por prejudicar a competição: R$ 19 bilhões. O Android, diz a condenação, foi usado para favorecer o negócio de buscas, ainda hoje o coração financeiro da companhia.
É um pequeno passo para a empresa, a terceira mais valiosa do mundo —como calculou a agência Bloomberg, a multa equivale a 16 dias do faturamento do ano passado. É um grande salto para a UE —o montante significa toda a contribuição da Holanda para os cofres da burocracia europeia.
O Android constitui o sistema operacional de 85% dos smartphones no mundo. Foi construído a partir de uma firma homônima comprada pelo Google em 2005. Com ele, a empresa fortaleceu seu navegador (o Chrome) e seu tocador de vídeos (o YouTube). Pôde manter o domínio de 90% do mercado de busca a despeito da migração da internet dos computadores para os celulares.
É evidente que tamanho monopólio não faz bem à sociedade. Estava mais do que na hora de enfrentar o problema, e a União Europeia assumiu um importante papel de liderança —no ano passado, já havia aplicado multa bilionária ao Google pela atuação no serviço de compras.
As restrições agora impostas darão algum respiro para que outros atores, também grandes empresas, ofereçam serviços concorrentes. Mas não hão de ser suficientes. O próximo front de questionamento deve ser o da publicidade. O Google domina quase 40% da propaganda digital pelo mundo —um jogo regido por regras ainda mais obscuras do que a do mercado de violões usados.
Roberto Dias
Secretário de Redação da Folha.
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