A um mês do primeiro turno de 2014, a delação de um ex-diretor da Petrobras jogou Dilma Rousseff contra a parede. Orientada pelos marqueteiros, a presidente gravou uma mensagem para a TV em que prometia ser implacável contra a roubalheira na política.
“Todos sabem que tenho tolerância zero com a corrupção”, dizia Dilma, como se a Lava Jato não tivesse acabado de explodir em seu colo.
O publicitário João Santana e o PT improvisaram uma lista de cinco medidas de combate à impunidade para convencer o eleitorado de que Dilma faria uma limpeza no poder. Não se sabe se o brasileiro comprou a ideia, mas a petista venceu.
A corrupção virou ponto central do debate do país e atingiu quase todos os partidos nos quatro anos seguintes, embora os atuais presidenciáveis prefiram ignorar o tema ou só esbravejar de modo genérico.
A esta altura da campanha, discussões sobre o caixa dois se limitam aos subterrâneos de Brasília, em forma de anistia, e o fantasma do indulto a políticos corruptos assombra o eleitor. Não se viu proposta séria sobre a estrutura da Polícia Federal, a lei das delações, uma nova legislação sobre prisão em segunda instância ou o foro especial.
O PT poderia tentar aplicar um antídoto contra a imagem associada ao partido, mas os eixos do programa da sigla se concentram em uma reforma do Judiciário para “dar uma oxigenada” nos tribunais —tribunais que mantiveram o ex-presidente Lula preso, que fique claro.
Jair Bolsonaro (PSL) faz sucesso ao pregar um abstrato “radicalismo” contra a corrupção e a ideia estapafúrdia de ampliar o STF, mas fica por aí. Geraldo Alckmin (PSDB) repete o refrão de que “a lei é para todos” ao justificar os problemas de seus aliados com a Justiça, e não passa disso.
As campanhas acreditam que o eleitor será movido por questões como emprego, renda e segurança. Falar de corrupção só aumentaria o desencanto com a política. No país do marketing eleitoral, é melhor fingir que alguns problemas não existem.
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