França e Croácia se enfrentam neste domingo (15) na final da Copa. Vencerá o melhor? Pode até ser, mas não saberemos, pelo menos não se emprestarmos rigor à definição de saber. O problema é que o futebol, como quase tudo no mundo, está muito mais sujeito às forças do acaso do que nossas mentes sedentas por padrões e controle gostam de admitir.
Imaginemos que a França seja ligeiramente melhor do que a Croácia, derrotando-a em 55% das disputas, descontados os empates. A questão é que, mesmo com essa superioridade, o time mais fraco vence o mais forte em 9 de 20 partidas que não terminam com igual número de gols.
Para eu poder afirmar qual é o melhor com relativa segurança estatística (margem de erro de cinco pontos e intervalo de confiança de 95%), seria necessário que eles se enfrentassem nada menos do que 269 vezes.
O interessante aqui é que não apenas temos dificuldade para apreciar o papel do acaso no mundo como tendemos a rejeitá-lo, às vezes com violência. Experimente dizer a um executivo top de linha que seu sucesso se deve à sorte. Se escapar dos insultos, você provavelmente ouvirá dele que o talento e a perseverança é que foram determinantes.
Fora o fato de que talento e perseverança, que são em parte determinados pela loteria genética, também se encaixam na categoria sorte, análises estatísticas mostram que o acaso é ubíquo e robusto em praticamente todas as atividades.
Por que então temos esse viés antiacaso? Negar a importância da sorte tem valor adaptativo, à medida que faz com que nos preparemos melhor para o que der e vier. E, quando a concorrência é acirrada, ter estudado mais ou estar mais bem treinado faz a diferença.
Assim, paradoxalmente, os pais que dizem a seus filhos que a sorte não é nada e só o esforço importa podem estar fazendo mais bem à criançada do que os genitores que lhes ensinam a verdade.
Dou duas semanas de folga ao leitor.
Hélio Schwartsman
Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".
Nenhum comentário:
Postar um comentário