Ser vice na política é “a pior coisa do mundo”, mas ser vice de GeraldoAlckmin (PSDB) pode ser ainda mais difícil. Cláudio Lembo (2003 a 2006), autor dessa definição, e Guilherme Afif (2011 a 2014) não sentem saudades do período que passaram como reservas no governo paulista.
“É muito desagradável ser vice de qualquer um. Você fica numa expectativa, sem função efetiva”, diz Lembo. “No caso do Geraldo, é complexo porque ele é muito introvertido. Você nunca sabe o que ele pensa.”
Em busca de um companheiro de chapa na corrida presidencial, Alckmin tratou antigos substitutos com distanciamento —como “vices decorativos”, segundo a expressão que Michel Temer usou para descrever sua função ao lado de Dilma Rousseff.
No caso de Afif, a relação se deteriorou. Quando o vice deixou o DEM (aliado de Alckmin) para fundar o PSD, o tucano decidiu demiti-lo da Secretaria de Desenvolvimento. Em 2013, Afif virou ministro de Dilma, e Alckmin foi à Justiça para cassar o mandato do vice-governador.
Afif diz que não guarda mágoas, mas se esquiva ao falar sobre o antigo colega de Palácio dos Bandeirantes. “Uso uma frase que o pai do Alckmin ensinou a ele: ‘Se não posso falar bem de alguém, não falo nada’.” O PSD quer apoiar Alckmin, mas Afif se lançará candidato à Presidência na convenção do partido.
Lembo, por outro lado, jamais teve desentendimentos com o tucano. Apenas compara a frieza de Alckmin à Serra da Mantiqueira, que atinge temperaturas abaixo de 0° C. “Nossa relação foi um monólogo de muito boa qualidade”, ironiza.
Quando despachava com seus vices, Alckmin costumava anotar suas ideias num caderninho. Os dois se frustraram ao perceber que, apesar da aparente atenção, as sugestões não eram levadas em conta.
A dupla converge conselho ao futuro vice de Alckmin. “Somos reis do silêncio. Quem não fala não se compromete”, diz Afif. Lembo completa: “Faça um exercício de humildade. Você fica fragilizado emocionalmente por não participar de nada”.
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