sexta-feira, 27 de julho de 2018

Um candidato do PSDB em oposição ao PSDB, Alberto Goldman, na FSP


Difícil ver o que ocorre no PSDB de São Paulo sem se indignar com os caminhos que o partido tem trilhado.
O PSDB nasceu há 30 anos para se afirmar como partido social-democrata, com liberdade de pensamento, respeito a opiniões diversas e democracia interna, para aprofundar a democracia tão duramente reconquistada, buscar reduzir as desigualdades sociais e construir um desenvolvimento econômico sustentável.

Assim, venceu duas eleições presidenciais com Fernando Henrique Cardoso e diversas outras, em especial para o governo de São Paulo, com Mario Covas, Geraldo Alckmin e José Serra, além de bancadas expressivas na Câmara e Senado.

Parecia um sonho que vinha lenta e duramente se tornando realidade. Mesmo as eleições de Lula e Dilma não apagaram esse desejo, pois o partido continuou sendo um polo progressista na política nacional, o que nos levou a resultados expressivos nas últimas eleições presidenciais, estaduais e municipais.

Contudo, o sonho ameaça se transformar em pesadelo. Após a eleição em 2016 de João Doria, que nada tem a ver com nossa história e nosso programa, para exercer o mandato de prefeito de São Paulo por quatro anos —mas com ambições sem limites e conduta reprovável—, o partido o apresenta como candidato a governador.

Por 24 anos, as administrações do PSDB no estado se mostraram profundamente exitosas, com resultados visíveis em diversas áreas, como o equilíbrio das contas; forte queda dos índices de homicídios; liderança nacional nas avaliações da educação; ampliação do acesso a centros de referência e ambulatórios de especialidades na saúde; melhor estrutura de transportes de passageiros e cargas no país, entre outros avanços reconhecidos nas seguidas eleições que vencemos.

No entanto, o atual pré-candidato do PSDB à sucessão paulista faz sua pré-campanha como um verdadeiro candidato de oposição às administrações do PSDB. Em vez de orgulhoso com nosso papel no estado, de ressaltar nosso legado, ele se apresenta crítico a diversas áreas da administração, procurando, de maneira oportunista, sem escrúpulos e sem respeito ao partido, capitalizar o sentimento generalizado de descontentamento com a política.

Com isso o PSDB de São Paulo, que sempre foi a alma e a espinha dorsal do partido, se apequena em troca de uma eventual manutenção do poder e destrói tudo aquilo que se construiu em 30 anos de lutas e sacrifícios, ameaçando o futuro do partido que, ainda hoje, é esperança de uma vida política mais saudável em nosso país.

O último lance desse doloroso processo é mostrado pela resposta que deu o presidente estadual do partido ao meu pedido para usar da palavra na recente convenção estadual: "Vou falar com o João Doria, ele paga a convenção, é ele quem manda". Aonde chegamos!

O que chama a atenção é a falta de vozes daqueles que viveram esse sonho mas, por oportunismo ou covardia, se omitem no repúdio ao caminho que vem sendo trilhado.

Já exerci diversos cargos públicos e partidários; hoje, nada mais sou que um militante. Mas não vou abrir mão dos meus sonhos, macular minha história, me rebaixar ou mesmo me omitir diante de pressões ou quaisquer outras ameaças, pois o que está em jogo é a sobrevivência e a integridade moral do partido para lutar por dias melhores para o nosso povo.
Alberto Goldman
Ex-governador de São Paulo (2010), ex-ministro dos Transportes (1992-1993, governo Itamar) e ex-deputado federal por seis mandatos

Nenhum comentário: