Há uma cegueira voluntária em algumas esposas de corruptos
Na semana passada, a jornalista Cláudia Cruz, esposa do ex-deputado Eduardo Cunha, foi condenada pelo crime de evasão de divisas em processo da Operação Lava Jato julgado no TRF-4. A pena dada a ela foi de dois anos e seis meses.
Para o Ministério Público Federal ela tinha “plena consciência da óbvia origem ilícita dos valores” e “lavou dinheiro ao fazer gastos com extravagância em hotéis, lojas de grife e restaurantes em Miami, Nova York, Paris, Milão e Madri”.
Quando questionada se nunca percebeu que o padrão de vida levado por ela e por seus familiares era inconsistente com as fontes de renda e o cargo público do marido, e se não teve curiosidade sobre a origem de mais de um milhão de dólares que gastou em compras, respondeu: “Veja bem, em casa eu não era jornalista, eu era a Cláudia e ele meu marido. Eu era mãe dos filhos e ali não tinha ninguém fazendo entrevistas ou perguntando. Eu era apenas esposa e mãe”.
Ela disse que nunca teve motivos para desconfiar do marido já que ele sempre repetia: “o meu dinheiro é lícito”.
É possível constatar uma espécie de “cegueira voluntária” por parte de algumas esposas de homens corruptos: “nunca suspeitei de nada”, “nunca desconfiei”, “não vi nada de errado”, “não acredito”, “é tudo mentira”, “é invenção de gente invejosa” etc.
Elas preferem fazer vista grossa, ignorar ou fingir que não perceberam os comportamentos suspeitos do marido, fazendo de conta que não enxergavam o que era tão visível para tantas pessoas.
Assim, não se sentiram obrigadas a tomar qualquer atitude diante dos crimes que testemunhavam.
Com a explosão dos escândalos de corrupção, alguns questionamentos sobre o assunto se fazem necessários.
Será que é possível as esposas dos responsáveis por esses crimes realmente não saberem de absolutamente nada do que acontecia?
E como elas conseguiram, durante tantos anos, desfrutar das benesses dos seus casamentos com criminosos?
Mirian Goldenberg
Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio, é autora de "A Bela Velhice".
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