quinta-feira, 16 de novembro de 2023

O senhor Julius Rock está fazendo escola, The News

 

(Imagem: CBS | Reprodução)

Não é só o Julius que tem dois empregos. Há um fenômeno inusitado acontecendo ao redor do mundo, especialmente entre os "colarinhos brancos”.

  • O chamado “overemployment” (OE) consiste em estar empregado em mais de um emprego full-time.

Dois trabalhos é melhor que um: Imagine um Engenheiro de Dados da Dell, com regime de 8 horas remoto, que também trabalha para a Microsoft de carteira assinada.

O modelo é e será cada vez mais comum para profissionais da área de tecnologia, que optam por trabalhar remotamente e não estão em cargos de gestão, ou seja, aqueles que executam suas tarefas sozinhos.

O sigilo é a regra no modelo. Um caso recente mostrou um profissional que trabalhou para Meta, IBM e Tinder, somando 820 mil dólares por ano de salários — algo próximo de 4 milhões de reais😳

Takeaway: Por mais controverso que seja, o shift também parece ser fruto da cultura da produtividade over carga horária. Assim como médicos e profissionais autônomos, executivos e suas funções de escritório estão se tornando cada vez mais sob demanda.

📠 Já que estamos falando de trabalho, você sabia que temos uma newsletter que te faz melhor no trabalho? É uma espécie de one-on-one em formato de e-mail. É boa para você e para o seu chefe. Give it a try.

QUEDA DE ÁRVORES NAS CIDADES: DIAGNÓSTICO E SOLUÇÕES, Álvaro Rodrigues

 Recorrentemente a todo final/início de ano repete-se a mesma novela: enchentes e

quedas de árvores trazendo incômodos e tragédias para a população urbana. Dois

fenômenos pelos quais ao homem, por seus erros, cabe a total responsabilidade. Com

especial destaque para as evidentes responsabilidades das administrações municipais.

No caso específico das árvores, por proceder ou permitir o plantio de espécies

arbóreas inteiramente inadequadas às especificidades do espaço urbano. Em cidades

como as nossas, de fiação aérea, tubulações enterradas sob a calçada e sarjetas e

intenso trânsito de veículos e pedestres, nunca se poderia adotar árvores de grande

porte, enraizamento destrutivo, fraca resistência ao ataque de pragas e extremamente

vulneráveis a ventos mais intensos. Nossas conhecidas Tipuanas (Tipuana tipu),

Sibipirunas (Caesalpinia pluviosa), Falsas Seringueiras (Ficus elastica), Figueiras

Benjamin (Ficus benjamina), Eucaliptos (Eucalyptus), Jacarandá-mimoso (Jacarandá

mimosaefolia), Quaresmeiras (Tibouchina granulosa) e outras, dominantes ao menos

na cena arbórea paulistana, constituem os exemplos mais evidentes dessa

inadequação, sendo comuns promotoras de vítimas, muitas delas fatais, e imensos

prejuízos patrimoniais com a queda de seus galhos, com seu tombamento total ou

com intercorrências com a rede elétrica. Infelizmente, essas espécies foram

generosamente e livremente espalhadas por nossas calçadas e praças, talvez por suas

características de fácil reprodução, rápido crescimento e segura pega.

Com absoluta certeza um programa de médio prazo, algo como cinco anos, de

impedimento de novos plantios, de remoção e progressiva substituição dessas

espécies arbóreas inadequadas já eliminaria algo como 90% dos problemas com

quedas de árvores e galhos.

A solução desse histórico problema por certo se completaria com um concomitante

programa de monitoramento e orientação da população para o plantio de espécies

arbóreas de pequeno e médio portes adequadas ao espaço urbano, incluindo oferta de

mudas e cuidados de manutenção.

Percebe-se que não é difícil e nem impossível vislumbrar e aplicar uma virtuosa e

prática solução para essa novela que recorrentemente atormenta as populações

urbanas, a ponto de ser muito difícil imaginar as razões pelas quais nossas

administrações municipais não tem tido a iniciativa de implementar esses programas.

Enfim, plantemos muitas árvores, milhões e milhões de árvores em nossas cidades,

elas nos são absolutamente necessárias, inclusive no combate às enchentes por

aumentarem a capacidade do espaço urbano em reter as águas de chuva, apenas

tomemos o inteligente cuidado de plantar as espécies arbóreas adequadas ao espaço a

que se destinam.

Geól. Álvaro Rodrigues dos Santos (santosalvaro@uol.com.br)

Ex-Diretor de Planejamento e Gestão do IPT e Ex-Diretor da Divisão de Geologia

Autor dos livros “Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática”, “A Grande Barreira da Serra do

Mar”, “Diálogos Geológicos”, “Cubatão”, “Enchentes e Deslizamentos: Causas e Soluções”, “Manual

Básico para Elaboração e Uso da Carta Geotécnica”, “Cidades e Geologia”

Consultor em Geologia de Engenharia, Geotecnia e Meio Ambiente

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

São Paulo derrapa em ações para enfrentar calor extremo, FSP

 Clayton Castelani

SÃO PAULO

onda de calor que vem colocando a capital paulista à beira de um apagão reflete erros que grandes cidades cometeram –e seguem cometendo– em relação ao planejamento do tipo de edificação que é a base da expansão urbana.

Ao incorporar aos seus edifícios tecnologias como o ar-condicionado, a cidade abandonou técnicas construtivas que reduzem a exposição do interior ao imóvel à luz solar e, por isso, diminuem a necessidade de sistemas de refrigeração com alto consumo de energia, segundo especialistas em arquitetura, urbanismo e engenharia civil ouvidos pela Folha.

Imagem aérea mostra prédios
Edifícios de arquitetura modernista são considerados bons exemplos de construções adaptadas às altas temperaturas - Eduardo Knapp/Folhapress

Maior cidade do país, São Paulo tem em seus edifícios históricos bons exemplos desse tipo de adaptação, segundo Anália Amorim, arquiteta e professora da Escola da Cidade e da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da USP.

Projetados na metade do século passado, quando aparelhos de refrigeração de ar ainda estavam se popularizando, essas construções possuem um dispositivo que é pouco utilizado na atualidade: os quebra-sóis.

Feitos em cerâmica –como tijolos finos e furadinhos, por exemplo–, de madeira ou outros materiais, são conjuntos de placas colocados numa fachada de um edifício para reduzir a incidência direta dos raios solares.

Amorim afirma que a legislação urbanística da cidade deveria oferecer estímulo à tecnologia que favorece o sombreamento de edifícios. "É preciso estimular os quebra-sóis porque isso reduz a entrada do calor, direto, e a irradiação", diz.

Exemplares da arquitetura modernista, prédios como Copan, Itália e Renata Sampaio Ferreira, todos na região central de São Paulo, possuem esses dispositivos, conta o arquiteto Gustavo Cedroni, cujo escritório é especializado na requalificação de imóveis antigos.

"Nossa arquitetura moderna foi exemplo em sustentabilidade, que usavam os quebra-sóis como técnica para o conforto térmico", disse.


Na contramão, os edifícios envidraçados se multiplicaram por décadas em novas regiões, inclusive com incentivos do poder público, como é o caso da avenida Brigadeiro Faria Lima.

A via enfrentou oscilações de energia em meio ao aumento recorde do consumo de energia provocado pela onda de calor.

Estímulos mencionados pelos especialistas são, na verdade, incentivos financeiros, normalmente por meio da redução de taxas e tributos, para que o mercado imobiliário passe a produzir imóveis em padrão e em áreas que atendem aos interesses de desenvolvimento da cidade.

Na metade deste ano, a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e a Câmara Municipal revisaram o PDE (Plano Diretor Estratégico) aprovado na gestão do ex-prefeito Fernando Haddad (PT). Responsável por direcionar o crescimento da cidade, o PDE terá vigência até 2029.

Menções à mudanças climáticas foram incluídas no planejamento durante a revisão, mas especialistas ouvidos pela reportagem afirmam que faltam apontamentos práticos como, por exemplo, a criação de estímulos específicos para a adaptação de prédios ao calor extremo.

Fachada branca tem tijolos vazados
Elementos vazados, como na fachada do edifício Renata Sampaio Ferreira, geram sombra no interior e reduzem a necessidade de ar-condicionado - Eduardo Knapp/Folhapress

Para os pesquisadores, um dos principais problemas é o envidraçamentos de prédios. Ao menos indiretamente, isso foi estimulado na cidade e é um ponto que não foi aletrado na revisão do PDE. A legislação oferece um estímulo financeiro às varandas –também chamadas de varandas gourmet–, pois não entram na conta da aplicação da taxa que a prefeitura cobra das construções que têm área construída maior do que o terreno.

Tais varandas acabam sendo incorporadas à área do edifício por meio dos fechamentos de sacadas com grandes lâminas de vidro, obrigando o proprietário à instalação de aparelhos para refrigeração do ar. "Do jeito que estão sendo projetadas, as varandas não ajudam a amenizar o calor, pelo contrário, viram pequenas estufas", reforça Amorim.

Se algumas oportunidades foram perdidas na revisão do Plano Diretor, outras ainda podem ser aproveitadas durante a revisão da Lei de Zoneamento, atualmente em discussão na Câmara.

Engenheira civil especialista em adaptação climática, a professora da FAU-USP Denise Duarte sugere a ampliação da chamada quota ambiental. Trata-se de uma regra que impõe exigências como permeabilidade do solo, áreas verdes e piscininha para armazenamento de água da chuva no subsolo dos prédios –como um piscinão, mas em escala inferior.

Atualmente, 47% dos terrenos da cidade não são obrigados a cumprir essa regra porque ela só é aplicada a lotes com mais de 500 metros quadrados, diz Duarte, citando levantamento do seu aluno, Pedro Casara Luz, graduando da POLI e da FAU-USP.

Aplicar a quota ambiental em lotes menores ajudaria a cidade a suportar as ondas de calor e outros eventos provocados pelas mudanças climáticas, como as tempestades, segundo Duarte.

Há, porém, diversas alternativas a serem discutidas e aprimoradas para a adaptação das cidades ao aquecimento global, segundo Lisiane Ilha Librelotto, engenheira civil e professora de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina.

"A geração de energia a partir da instalação de painéis na cobertura ou mesmo nas fachadas é uma estratégia, mas existem outras formas de geração também", diz Librelotto.

"Pequenas turbinas eólicas, geração de energia pela digestão de biomassa. Isso vale também para captação de água, que pode auxiliar na retenção em situações de enxurradas e enchentes", completa a professora.

Ela cita também a ampliação de áreas verdes, como os parques urbanos, porque contribuem para a redução das ilhas de calor urbanas. "A vegetação tem um papel muito importante na redução do efeito estufa, na absorção de água, no sombreamento de vias."

Reconhecido por sua militância em defesa de questões ambientais, Gilberto Natalini assumiu na metade deste ano como secretário-executivo de Mudanças Climáticas da Prefeitura de São Paulo.

Ele afirmou à Folha que a prefeitura vem trabalhando para se tornar mais resiliente às mudanças climáticas e que possui 43 metas e 54 ações voltadas à mitigação e à adaptação, algumas a serem atingidas já a partir do próximo ano.

"Temos praticamente cem por cento das secretarias da cidade envolvidas com a aplicação do Plano Climático de São Paulo", disse, sobre o projeto criado na gestão Bruno Covas (PSDB) para mitigação e adaptação às mudanças climáticas.