Recorrentemente a todo final/início de ano repete-se a mesma novela: enchentes e
quedas de árvores trazendo incômodos e tragédias para a população urbana. Dois
fenômenos pelos quais ao homem, por seus erros, cabe a total responsabilidade. Com
especial destaque para as evidentes responsabilidades das administrações municipais.
No caso específico das árvores, por proceder ou permitir o plantio de espécies
arbóreas inteiramente inadequadas às especificidades do espaço urbano. Em cidades
como as nossas, de fiação aérea, tubulações enterradas sob a calçada e sarjetas e
intenso trânsito de veículos e pedestres, nunca se poderia adotar árvores de grande
porte, enraizamento destrutivo, fraca resistência ao ataque de pragas e extremamente
vulneráveis a ventos mais intensos. Nossas conhecidas Tipuanas (Tipuana tipu),
Sibipirunas (Caesalpinia pluviosa), Falsas Seringueiras (Ficus elastica), Figueiras
Benjamin (Ficus benjamina), Eucaliptos (Eucalyptus), Jacarandá-mimoso (Jacarandá
mimosaefolia), Quaresmeiras (Tibouchina granulosa) e outras, dominantes ao menos
na cena arbórea paulistana, constituem os exemplos mais evidentes dessa
inadequação, sendo comuns promotoras de vítimas, muitas delas fatais, e imensos
prejuízos patrimoniais com a queda de seus galhos, com seu tombamento total ou
com intercorrências com a rede elétrica. Infelizmente, essas espécies foram
generosamente e livremente espalhadas por nossas calçadas e praças, talvez por suas
características de fácil reprodução, rápido crescimento e segura pega.
Com absoluta certeza um programa de médio prazo, algo como cinco anos, de
impedimento de novos plantios, de remoção e progressiva substituição dessas
espécies arbóreas inadequadas já eliminaria algo como 90% dos problemas com
quedas de árvores e galhos.
A solução desse histórico problema por certo se completaria com um concomitante
programa de monitoramento e orientação da população para o plantio de espécies
arbóreas de pequeno e médio portes adequadas ao espaço urbano, incluindo oferta de
mudas e cuidados de manutenção.
Percebe-se que não é difícil e nem impossível vislumbrar e aplicar uma virtuosa e
prática solução para essa novela que recorrentemente atormenta as populações
urbanas, a ponto de ser muito difícil imaginar as razões pelas quais nossas
administrações municipais não tem tido a iniciativa de implementar esses programas.
Enfim, plantemos muitas árvores, milhões e milhões de árvores em nossas cidades,
elas nos são absolutamente necessárias, inclusive no combate às enchentes por
aumentarem a capacidade do espaço urbano em reter as águas de chuva, apenas
tomemos o inteligente cuidado de plantar as espécies arbóreas adequadas ao espaço a
que se destinam.
Geól. Álvaro Rodrigues dos Santos (santosalvaro@uol.com.br)
Ex-Diretor de Planejamento e Gestão do IPT e Ex-Diretor da Divisão de Geologia
Autor dos livros “Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática”, “A Grande Barreira da Serra do
Mar”, “Diálogos Geológicos”, “Cubatão”, “Enchentes e Deslizamentos: Causas e Soluções”, “Manual
Básico para Elaboração e Uso da Carta Geotécnica”, “Cidades e Geologia”
Consultor em Geologia de Engenharia, Geotecnia e Meio Ambiente
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