domingo, 21 de maio de 2023

Livro recorre a germes para explicar grandes eventos da história, - Hélio Schwartsman, FSP

Comento hoje "Pathogenesis", de Jonathan Kennedy. Embora o título evoque um aborrecido compêndio médico, trata-se de um fascinante livro de história. A tese de Kennedy é simples. Diferentemente do que sugeriu Carlyle, não são as ações de "grandes homens", como Maomé e Napoleão, que melhor explicam os rumos da história, mas as intervenções de agentes bem mais modestos, os germes patogênicos.

Ao longo de oito capítulos, o autor recorre às doenças transmissíveis para iluminar grandes transições. Ele começa no começo, isto é, no Paleolítico. Para Kennedy, é provável que sejam os patógenos que o Homo sapiens levou da África, cujo clima mais quente favorecia a proliferação de vírus e bactérias, para a Europa os responsáveis pela extinção do homem de Neanderthal e outros hominínios. É especulativo, mas faz sentido, especialmente quando se considera que os neandertais também dispunham de pensamento simbólico, característica que já julgamos exclusiva de nossa espécie.

A ilustração de Annette Schwartsman, publicada na Folha de São Paulo no dia 21 de maio de 2023, mostra dois personagens em um campo verde sob o céu azul. O que se encontra do lado esquerdo do quadro está agachado, segurando uma pedra na mão esquerda; ele tem as feições de um homem de Neandertal e usa uma “saia” marrom de pele de animal. Ele olha em direção ao outro personagem, do lado direito, que está em pé, postura ereta, portando uma lança na mão esquerda. Ele tem a fisionomia de um homo sapiens e veste “saia”,  “colete” e “botas” de pele cinzas. Sob seu corpo e ao redor, vemos pequenas partículas voadoras coloridas que representam vírus e bactérias que o Homo sapiens levou da África para a Europa, e teriam sido responsáveis pela extinção do homem de Neandertal e outros hominínios.
Ilustração de Annette Schwartsman para a coluna de Hélio Schwartsman publicada neste domingo (21/5) na versão impressa da Folha - Annette Schwartsman

Segundo o autor, não foram as formidáveis legiões as principais linhas de defesa de Roma contra os invasores bárbaros. Quem desempenhou esse papel foram diarreias variadas e a malária. A cidade mais prodigiosa do Universo estava tomada por essas pragas. Qualquer romano que tivesse sobrevivido à infância tinha defesas pelo menos parciais contra elas, mas os bárbaros, não. É nessa toada que Kennedy visita fenômenos como a expansão do islamismo, a passagem do feudalismo para o capitalismo, a escravização dos africanos e o colonialismo.

Sempre que autores trazem uma nova ordem de explicação para fenômenos tão díspares, correm o risco de superestimar a força de suas premissas. Não penso que Kennedy esteja imune a esse efeito. Mas ele traz, com graus variados de apoio fático, hipóteses que merecem reflexão e, ainda que com algum desconto, podem ser incorporadas a nosso entendimento de grandes eventos da história. 

O QUE A FOLHA PENSA -Morte em liberdade, FSP

 Um ano e meio: esse é o tempo médio de vida de egressos do sistema penitenciário brasileiro. Segundo pesquisa contratada pelo Conselho Nacional de Justiça, saúde e vinculação ao crime são os principais fatores de risco de pessoas que saem da prisão.

O levantamento, feito por pesquisadores da Fundação Getulio Vargas e do Insper, analisou um escopo de 1.168 processos judiciais de todos os estados entre 2017 e 2020.

Foram analisadas mortes dentro do sistema prisional e fora dele, quando a pessoa ainda tinha algum vínculo com a Justiça criminal.

No primeiro caso, prevalecem como causas doenças do aparelho circulatório, sepse e pneumonia, além de traumas violentos como enforcamento e estrangulamento.

A contumaz superlotação dos presídios contribui para condições de vida degradantes que geram problemas de saúde e estimulam a violência. De acordo com dados mais recentes do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 566.396 condenados pela Justiça viviam em regime fechado em 2021, e o sistema tinha um déficit de vagas de 180.696 —ou 1,3 preso por vaga.

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Ademais, em 70,43% dos casos de óbito no cárcere, não há informações sobre a instauração de algum tipo de investigação. Há também precariedade de dados sobre cor, comorbidades, escolaridade etc.

O quadro é igualmente preocupante no ambiente externo. A morte acompanha o ex-detento, seja pelas consequências da superlotação de presídios, como as doenças, seja porque a liberdade não rompeu o vínculo de vulnerabilidade ante o crime, dada a ausência de políticas sociais de reinserção.

Ferimento por arma de fogo e hemorragia de causa não especificada são os dois principais fatores que levam egressos do sistema ao óbito, seguidos de doenças do aparelho circulatório. Esses dados, combinados com o baixo tempo médio entre a saída da prisão e o falecimento (1,5 ano), revelam o impacto do encarceramento em massa mesmo em liberdade.

O Estado é responsável pela segurança dos apenados e também tem o dever de prover condições dignas de vida no sistema prisional.

Acabar com a superlotação, melhorar a infraestrutura do cárcere e promover políticas de reinserção do ex-detento à sociedade são medidas que não só seguem princípios básicos dos direitos humanos como beneficiam toda a sociedade, ao contribuir para a queda de índices de criminalidade e violência.

editoriais@grupofolha.com.br

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sexta-feira, 19 de maio de 2023

Zurich Airport ganha aeroporto no RN com diferença de apenas R$ 1 do concorrente, OESP


Por R$ 320.000.012, com ágio de 41%, a Zurich Airport foi a vencedora do leilão de relicitação do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante, no Rio Grande do Norte. A disputa aconteceu nesta sexta na sede da B3, em São Paulo.

A Zurich competiu com a NK 230 Empreendimentos e Participações, companhia da XP Infra, que acabou perdendo por apenas R$ 1 de diferença. Isso mesmo: ela acabou a disputa com lance de R$ 320.000.011. Isso aconteceu porque a regra do leilão, que ocorreu por viva-voz, determinava apenas lances superiores a R$ 5 milhões, e em alguns momentos as empresas ofereceram R$ 5.000.001. Então, para levar o aeroporto, a NK teria de elevar a proposta para R$ 325 milhões, o que não aconteceu. Foram 26 ofertas até o valor final.

Esse foi o primeiro leilão de concessão realizado pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O aeroporto está a 30 quilômetros do centro de Natal e foi o primeiro a ser concedido para a iniciativa privada, em 2011. Sua antiga operadora, a Inframerica Concessionária, devolveu voluntariamente a concessão para o poder público em 2020. Confira detalhes do contrato e das negociações aqui.